Para marcar o Dia da Independência, neste sábado, 7 de setembro, fiz uma lista com sete filmes brasileiros premiados que estão disponíveis no streaming.
A seleção representa as cinco regiões do país: Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul. Os gêneros variam bastante: tem comédia dramática, documentário, cinebiografia e até thriller de ficção científica.
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1) Edifício Master (2002)
De Eduardo Coutinho. Vencedor da Mostra Internacional de São Paulo, do Festival de Gramado e menção honrosa em Havana, foi um dos grandes filmes deixados pelo mestre do documentário. O diretor e sua equipe visitam um antigo e tradicional prédio de Copacabana, no Rio, e revelam condôminos como Daniela, uma professora de Inglês que viveu oito anos fora do Brasil e sofre de fobia social. Ou o viúvo aposentado Henrique, que se apropriou da canção My Way como lema de vida. Ou ainda a jovem Alessandra, que se assume como mentirosa, mas garante que só disse a verdade diante da câmera.
Coutinho tinha a habilidade para encontrar e ouvir o que chamava de "pessoas interessantes": "Se a pessoa consegue se expressar com força, do ponto de vista do vocabulário, da sintaxe, da construção da frase e, ao mesmo tempo, entra no jogo, porque a entrevista é um teatro, um jogo, essa é uma pessoa interessante", disse ao jornalista Eduardo Veras, de Zero Hora, em 2005. (Claro TV e Telecine)
2) O Homem que Copiava (2003)
De Jorge Furtado. Conta a história de um jovem operador de xerox (Lázaro Ramos) de uma papelaria da zona norte de Porto Alegre, onde falsifica uma nota de R$ 50 para comprar um presente para a moça de quem gosta (Leandra Leal). Ele tem uma visão de mundo fragmentada, pois só consegue ler pedaços dos livros e trabalhos escolares dos quais faz cópias. A trama também tem um pouco de tudo: suspense, romance, drama e humor, cortesia de Pedro Cardoso e Luana Piovani.
O filme se se passa basicamente no 4º Distrito, mas o diretor e roteirista bagunçou um pouco a geografia porto-alegrense. A livraria onde ele trabalha é, na verdade, a Bayadeira, no bairro Bom Fim. A loja onde a mocinha trabalha é, na verdade, a Tásken (na época, Casa Elsa), na Cidade Baixa. Cenas importantes acontecem à beira do Guaíba e na ponte sobre o Guaíba, e O Homem que Copiava tirou do esquecimento um monumento histórico de Porto Alegre. Trata-se de uma fonte com duas ninfas, localizada em uma praça no cais do porto (à direita do portão principal, passando os armazéns), há muito tempo desativada, depredada e isolada pela linha do Trensurb. A obra integrava o plano de embelezamento da cidade, na gestão de Otávio Rocha como intendente. Foi modelada entre 1927 e 1928 por Alfred Adloff, um dos mais importantes escultores do período. (Claro TV, Globoplay e Paramount+)
3) Xingu (2011)
De Cao Hamburger. Depois de mirar a ditadura militar pela visão de uma criança em O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias (2006), o diretor mergulhou mais fundo na história do país. Em Xingu, o cineasta visita os anos 1940 para reconstituir a aventura dos jovens irmãos Villas-Boas — Orlando (papel de Felipe Camargo), Cláudio (João Miguel) e Leonardo (Caio Blat) —, os fundadores da reserva indígena com mais de 2,6 mil hectares no norte de Mato Grosso.
Cada irmão tem um perfil. Orlando, o mais velho, é o político; Leo, o caçula, é impetuoso; e Cláudio, o irmão do meio, é o idealista que expressa a contradição da expedição em meio a povos como os xavantes e os kalapalos: "Nós somos o antídoto e o veneno", afirma. (Netflix)
4) Bacurau (2019)
De Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles. Laureada com o Prêmio Especial do Júri no Festival de Cannes, essa mistura de ficção científica, faroeste, terror, policial e drama político começa exibindo um globo terrestre no qual apenas os vizinhos do Brasil estão iluminados. No futuro imaginado pelos cineastas pernambucanos, o país tornou-se um grande deserto. Não apenas geográfico, mas de ideias e de emoções. Nossos cérebros e corações estão apagados, daí que a população da pequena e fictícia Bacurau, no sertão nordestino, aparece como presa fácil para um safári humano engendrado por estrangeiros.
A cena de abertura reforça a visão do Brasil como um país abandonado. A bordo do caminhão-pipa que leva água e Teresa (interpretada por Barbara Colen) de volta a Bacurau, passamos pelas ruínas de uma escola municipal (mais adiante na trama, veremos um carro de polícia enferrujado, outro símbolo da falência do Estado) e, literalmente, atropelamos caixões que caíram pela estrada. É a morte em abundância, a morte banalizada, uma espécie de profecia sobre o que se viu na pandemia. (Globoplay e Telecine)
5) Carvão (2022)
De Carolina Markowicz. Vencedor dos troféus de roteiro, atriz coadjuvante (Aline Marta Maia) e direção de arte no Festival do Rio, Carvão foi o primeiro longa-metragem da diretora paulista, que aqui retrata três marcas não muito vistosas do Brasil: o absurdo, a violência, a hipocrisia.
Em uma cidadezinha paulista, Irene (Maeve Jinkings) e o marido, Jairo (Rômulo Braga), vivem de uma pequena carvoaria no quintal de casa. Os dois têm um filho de seus oito, nove anos, o esperto Jean (o estreante Jean de Almeida Costa), e o pai dela, doente, não sai mais da cama, não fala, não ouve. Uma agente de saúde, Juracy (Aline Maria Marta), faz uma proposta lucrativa, mas de risco: hospedar em sua casa um chefão do tráfico de drogas (papel do argentino César Bordón) que forjou a própria morte durante uma matança. (Globoplay e Telecine)
6) Marte Um (2022)
De Gabriel Martins. Representante do Brasil na luta por uma vaga no Oscar internacional de 2023, fala dos sonhos e dos perrengues de uma família negra da periferia de Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte. A história começa em 28 de outubro de 2018. Enquanto um telejornal anuncia a eleição de Jair Bolsonaro para a Presidência e fogos de artifício ecoam nas ruas, um menino mira o céu.
Ele é Deivid, o Deivizinho (Cícero Lucas), um craque do futebol de várzea, mas que sonha em ser astrofísico e participar de uma missão que em 2030 pretende iniciar a colonização de Marte. O sonho de Nina (Camilla Damião), a irmã mais velha, é alugar um apartamento para ir morar com a namorada, mas os pais não sabem disso. O pai deles, Wellington (Carlos Francisco), porteiro em um condomínio de classe alta, se orgulha de estar há quatro anos sem beber e sonha com o ingresso do filho no seu time de coração, o Cruzeiro. E a mãe, a faxineira Tércia (Rejane Faria), não sonha: tem pesadelos e sofre de insônia desde que foi vítima de uma pegadinha de mau gosto em uma lanchonete. (Claro TV e Globoplay)
7) Noites Alienígenas (2022)
De Sérgio de Carvalho. Produzido no Acre, atravessou o país para ganhar cinco Kikitos no Festival de Gramado: melhor longa-metragem brasileiro, ator (o estreante Gabriel Knoxx), ator coadjuvante (Chico Diaz), atriz coadjuvante (Joana Gatis) e o troféu da crítica. Também recebeu uma menção honrosa pela atuação de Adanilo. A trama se passa nos limites entre o urbano e a Floresta Amazônica, e o título tem um duplo sentido. Por um lado, sinaliza para a porção realismo mágico do filme; por outro, aponta para uma triste realidade: a abdução da juventude de Rio Branco, a capital do Acre, pelo crime organizado, a partir da chegada das facções do Sudeste.
Junta-se a uma delas o rapper Rivelino, o Riva, 17 anos, que é apaixonado pela garçonete e mãe solteira Sandra (papel de Gleici Damasceno, vencedora do BBB 18). O personagem Paulo ilustra a ruína dos povos indígenas perante o tal de "progresso" das cidades: ele se tornou dependente químico e rouba pertences da própria mãe para comprar drogas. O poder público parece omisso: em Noites Alienígenas, não se vê policiais nem viaturas em cena. (Netflix e Telecine)