O ano de 1999 foi especial para quem adora filmes com reviravoltas na trama — ou plot twists, como chamam em Hollywood e também pegou por aqui.
Todo mundo lembra de O Sexto Sentido, que faturou US$ 672,8 milhões nas bilheterias e recebeu seis indicações ao Oscar, dando fama a seu diretor, M. Night Shyamalan.
Todo mundo lembra de O Clube da Luta, dirigido por David Fincher e estrelado por Edward Norton e Brad Pitt, que se tornou um dos mais icônicos filmes do fim do milênio, tema de debates sobre uma sociedade consumista e desinteressada dos valores morais e sobre os homens que se sentem emasculados nos novos tempos.
Mas talvez poucos lembrem de O Suspeito da Rua Arlington (Arlington Road, 1999), que só rendeu US$ 41 milhões mundialmente, não concorreu a prêmios importantes e ficou muito tempo sumido no limbo digital. O resgate aconteceu neste mês de agosto, pela plataforma de streaming Looke.
Seu diretor é o estadunidense Mark Pellington, que fez carreira realizando videoclipes como Silent Morning (1987), de Noel, What's On your Mind? (1988), do Information Society, Say No Go (1989), do De La Soul, One (1992), do U2, Rooster (1993), do Alice in Chains, e Beautiful Girl (1993), do INXS. No cinema, seu trabalho mais célebre foi somente O Suspeito da Rua Arlington, que agora Pellington está adaptando para uma série de TV.
Escrito por Ehren Kruger, que bem mais tarde disputaria o Oscar de melhor roteiro adaptado como um dos autores de Top Gun: Maverick (2023), o filme fecha uma espécie de trilogia informal decorrente do atentado terrorista de Oklahoma City — em 1995, uma bomba detonada por radicais de direita matou 168 pessoas. O vilão interno já havia sido tema de Teoria da Conspiração (1997), de Richard Donner, e Inimigo do Estado (1998), de Tony Scott.
Em O Suspeito da Rua Arlington, Jeff Bridges interpreta o professor de história Michael Faraday, cuja esposa, uma agente do FBI, foi morta por um grupo da extrema-direita. Por isso, ele se tornou um sujeito obcecado por terrorismo doméstico — e desconfiado ao extremo.
ALERTA DE SPOILERS DAQUI A POUCO.
Quando seus novos vizinhos (o casal formado por Tim Robbins e Joan Cusack) começam a tomar atitudes estranhas, Faraday entra em alerta: estará ele diante de uma conspiração ou tudo não passa de paranoia sua?
ATENÇÃO!
O PARÁGRAFO SEGUINTE TEM SPOILER SOBRE O PLOT TWIST.
É bastante engenhoso o final do filme. Sim, o professor universitário estava correto, os vizinhos eram mesmo terroristas. Mas a grande virada é que os personagens de Robbins e Cusack fazem o protagonista entrar para a história como o vilão. Ou seja: em 1999, o roteirista Ehren Kruger estava sendo premonitório sobre o alcance e o poder das fake news.
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