Houve um dia em que Denzel Washington resolveu trocar a Academia, a de Hollywood, pela academia, a de malhação. Colocou em segundo plano as atuações que valiam indicações ao Oscar e partiu, literalmente, para a ação. Virou herói – ou até vilão – de filmes como Incontrolável (2010), que a RBS TV exibe nesta quinta-feira (16), às 14h55min, na Sessão da Tarde.
Entre 1988 e 2002, o americano Denzel, hoje com 65 anos, ganhou duas vezes o Oscar: melhor ator coadjuvante por Tempo de Glória e melhor ator por Dia de Treinamento. Também concorreu aos prêmios de coadjuvante por Um Grito de Liberdade e melhor ator por Malcolm X e Hurricane: O Furacão (por estes dois últimos filmes, acrescente- se, recebeu o Urso de Prata no Festival de Berlim).
Nesses papéis, estabeleceu sua persona artística: a do homem íntegro, sólido em suas posições, ainda que controvertido em suas ideias. Fechou o ciclo com um personagem até então inédito para ele, o de cara malvado – o tira corrupto de Dia de Treinamento (2001) –, como se avisasse sobre uma guinada na sua carreira.
Verdade. Desde 2002, filmes policiais e de ação tornaram-se a tônica de sua carreira. Enquadram-se em uma dessas categorias pelo menos 13 títulos, como o animado suspense Por um Triz (2003), a aventura pós-apocalíptica O Livro de Eli (2010), o faroeste Os Sete Magníficos (2016) e o thriller O Protetor (2014), que já virou franquia – teve um segundo capítulo em 2018 e pode ganhar um terceiro.
Pegou em armas ou usou os punhos mesmo quando trabalhou ao lado de diretores como Spike Lee (O Plano Perfeito, 2006) e Ridley Scott (O Gângster, 2007). Entre as raras exceções, fez três filmes que voltaram a valer indicações ao Oscar: concorreu como melhor ator pelo piloto de avião herói e alcoólatra de O Voo (2012), como o ex-jogador de beisebol que agora é coletor de lixo de Um Limite Entre Nós (2016), que ele também dirigiu, e como o advogado idealista de Roman J. Israel (2017), que enfrenta uma crise moral ao ter de defender um homem acusado de homicídio.
Na sua versão macho man, em que ora emprestava sua retidão moral, ora seu sorriso malandro para dar mais complexidade a personagens estereotipados, Denzel sedimentou sua parceria com o diretor britânico Tony Scott, irmão caçula de Ridley, iniciada em Maré Vermelha (1995), um thriller de submarino temperado pela ameaça da guerra nuclear. Depois vieram a violência espetacular de Chamas da Vingança (2004), a aventura de ficção científica Deja Vu (2006) e O Sequestro do Metrô 123 (2009). Cartaz desta quinta-feira na Sessão da Tarde da RBS TV, Incontrolável (Unstoppable, 2010) foi a quinta e última colaboração: o cineasta de Fome de Viver (1983) e Top Gun - Ases Indomáveis (1986) se matou em 2012, aos 68 anos.
Baseado numa história real, Incontrolável apresenta Denzel como Frank, veterano maquinista que ganha a companhia de um novato, Will, Chris Pine (o Trevor Scott de Mulher-Maravilha). Em meio ao recorrente estranhamento entre o sujeito experiente taciturno e o parceiro jovem que acha que sabe tudo, cada qual com dramas familiares pendentes, a dupla logo cruza com um problema maior.
Um trem sem condutor, com vagões carregados de produtos tóxicos e em alta velocidade, se aproxima de uma cidade populosa. Quando falham todas as tentativas de parar ou descarrilar o gigante de aço, Frank e Will decidem acelerar sua locomotiva sobre os trilhos e pegar à unha o comboio desgarrado.
Missão que Tony Scott cumpre com o virtuosismo técnico que faz o espectador acompanhar a caçada atento e em suspense enquanto esquece da vida e um pouco do coronavírus.