Na onda de nostalgia que bateu em Hollywood, com continuações e prólogos de filmes lançados décadas atrás, Twisters (2024) talvez seja a retomada mais inesperada, ainda que seu original, Twister, tenha sido o vice-campeão nas bilheterias mundiais em 1996 (com US$ 495,7 milhões arrecadados, só ficou atrás de Independence Day, que faturou US$ 817,4 milhões, e terminou à frente de Missão: Impossível, US$ 457,6 milhões). Por outro lado, faz todo sentido que, em tempos de eventos extremos derivados das mudanças climáticas, o cinema-catástrofe volte a retratar caçadores de tornados, um fenômeno meteorológico que ocorre cerca de 1,2 mil vezes por ano nos Estados Unidos, sobretudo no Texas, no Kansas, na Flórida, em Oklahoma e em Nebraska, e que pode ser intensificado pelo aquecimento global: quanto mais calor e umidade, mais evaporação, o que significa mais instabilidade atmosférica.
Pois bem.
Ao longo de suas quase duas horas de duração, o longa-metragem de Lee Isaac Chung, indicado ao Oscar de melhor direção pelo singelo e sensível Minari: Em Busca da Felicidade (2020), jamais toca no assunto. Twisters não quer saber de causas, só de consequências, o que preserva o filme de críticas dos espectadores negacionistas, aqueles que não acreditam no aumento da temperatura terrestre ou que minimizam o peso da intervenção humana. Os personagens falam de microfísica e de supercélulas, mesclam termos científicos com adjetivos laudatórios diante dos fenômenos meteorológicos, mas há uma única e brevíssima menção a "mudanças climáticas" nos diálogos escritos por Mark L. Smith (responsável pela adaptação de O Céu da Meia-Noite, em que a Terra está morrendo) a partir de uma história de Joseph Kosinski (o cineasta de Top Gun: Maverick). Que, por sua vez, se baseou no trabalho de Michael Crichton e Anne-Marie Martin em Twister (disponível no Telecine).
No primeiro filme, dirigido por Jan de Bont e ambientado em Oklahoma, Bill Paxton interpretou um meteorologista de TV que vai com sua noiva atrás da ex-esposa e antiga colega de trabalho para fazê-la assinar os papéis do divórcio. Mas ele encontra a personagem de Helen Hunt, obcecada por tornados desde quando, em 1969, viu o pai ser sugado, completamente focada em uma série de tempestades: seu objetivo é, por meio de sensores que devem ser colocados muito próximos de um tornado, ajudar a montar um sistema de alerta mais preciso.
A trama de Twisters ecoa a de Twister — ainda que haja alusões à história anterior, é menos uma continuação do que uma refilmagem, uma atualização. Estamos novamente no Oklahoma, onde a atriz britânica Daisy Edgar-Jones, indicada a prêmios pela minissérie Normal People (2020) e estrela de Fresh (2022), tem outro belo desempenho, despertando a nossa empatia. Ela encarna a meteorologista Kate Cooper, outra personagem traumatizada pelos tornados — prefiro poupar detalhes da sequência de abertura para não tirar seu impacto.
Cinco anos depois desse episódio devastador, ela é convidada por um antigo amigo, Javi (Anthony Ramos, do musical Em um Bairro de Nova York), para testar um inovador sistema de rastreamento. Ele confia muito na mistura de conhecimento e intuição de Kate, que, nos tempos de faculdade, desenvolveu um projeto de dissipação da força dos ventos. Logo os dois vão cruzar com a equipe de Tyler Owens, sucesso de audiência no YouTube e nas redes sociais ao postar as aventuras imprudentes empreendidas na perseguição e exibição de tornados. Tyler é vivido pelo novo astro de Hollywood, Glen Powell, que despontou em Top Gun: Maverick (2022) e se firmou nas comédias românticas Assassino por Acaso (2023) e Todos Menos Você (2023). O diretor de Twisters explora seu carisma para fazer tipos que, no fundo, não são os idiotas detestáveis que parecem ser. E também explora seus dotes físicos: é de uma gratuidade digna de filme erótico barato a cena em que uma chuvarada molha a camiseta branca do personagem para salientar seu corpo bem torneado.
Além dos inevitáveis e convencionais contornos românticos, Lee Isaac Chung aposta na inserção de doses de humor em meio ao perigo. Parte das piadas deriva das abordagens de vida diferentes de quem vive na cidade (Kate mora em Nova York) e quem vive no campo (o "caubói" Tyler). Isso gera um momento um tanto anacrônico: numa espécie de primeiro encontro, Tyler leva Kate para um rodeio, como se fosse apaixonante para uma mulher urbana assistir a um ritual de maus-tratos aos animais.
Porém, antes que se veja algo mais grave com os bezerros, surge uma tempestade para empurrar Twisters de volta ao subgênero pelo qual o público está pagando o ingresso e a pipoca (aliás, a caça a tornados virou negócio turístico nos Estados Unidos). Aí, o trabalho conjugado de Chung, do diretor de fotografia Dan Mindel (de Star Wars: O Despertar da Força e Star Wars: A Ascensão Skywalker), da editora Terilyn A. Shropshire (de A Mulher Rei), do compositor Benjamin Wallfisch (de O Homem Invisível) e das equipes de design de produção e efeitos visuais funciona. Acreditamos que são reais aquelas colunas de ar que, depois de formadas, giram violenta e perigosamente — e muitas delas são mesmo, pois o cineasta filmou sequências durante a temporada de tornados nos EUA. Acreditamos que os personagens estão sendo realmente tragados pelo vento — e muita coisa foi destruída de verdade. Há uma certa repetitividade nas cenas de ação, mas existe pelo menos um momento marcante: quando a parede de um cinema é arrancada, onde antes a tela exibia um clássico dos filmes de monstro da Universal agora vê-se a fúria da natureza.
Essa cena, contudo, não deixa de ser traiçoeira: atesta a espetacularização da tragédia. O consumo do desastre. Twisters só não é um filme totalmente escapista porque oferece uma brisa de crítica social: personifica em um coadjuvante visto duas ou três vezes, Marshall Riggs, a exploração comercial das catástrofes climáticas. Trata-se de um sujeito que segue os rastros dos tornados para comprar, a preço de banana, terras e propriedades danificadas.