Se você já leu ou ouviu falar alguma coisa sobre a muito antecipada Normal People, provavelmente já sabe que há cenas quentes e realistas de sexo, muitas. Esse certamente é um dos atrativos do programa, que não tem pudor de mostrar corpos nus em posições variadas. É uma história de amor, afinal.
Mas há muitas outras razões para se assistir a essa série de 12 capítulos, cada um com mais ou menos meia hora de duração, que entra em cartaz nesta quinta-feira (16) no canal pago Starzplay. As atuações dos jovens atores do elenco são muito boas, principalmente a do casal central, Marianne Sheridan (Daisy Edgar-Jones) e Connell Waldron (Paul Mescal), que têm uma química quase palpável.
Tudo é muito bem cuidado, desde o roteiro, que teve supervisão da autora do livro, até a direção, discreta e precisa, passando pelo figurino, que evolui conforme os protagonistas vão amadurecendo. E vale atenção especial à trilha sonora, com músicas atuais, alternativas, e sempre muito bem colocadas. O ritmo é quase meditativo, nada acontece de maneira esbaforida aqui, o tempo do pensamento de cada um é que rege a velocidade das cenas.
O primeiro amor
Baseada no best-seller Pessoas Normais (2018), da escritora irlandesa Sally Rooney, Normal People é uma série original do streaming Hulu, não disponível no Brasil, e da BBC. A produção nos apresenta aos seus protagonistas quando eles são adolescentes do ensino médio de uma escola de alto nível em uma cidadezinha fictícia na Irlanda.
Marianne Sheridan é uma menina rica e esquisita, não tem amigos e parece desprezar os professores e o que eles têm a ensinar. Ela gosta de ler e passa o tempo todo sozinha. Mora em uma casa imensa com sua mãe fria e seu irmão abusivo. Connell é o oposto, um menino bonito, sensível e popular, estrela do time de futebol gaélico e disputado pelas meninas. Ele é o mais pobre da turma, sua mãe é faxineira da casa de Marianne.
Por essa conexão, Connell percebe que Marianne não é uma menina entojada como se mostra na escola, mas sim uma garota solitária e insegura. Eles se aproximam, se atraem um pelo outro e começam a transar escondidos de todo mundo. Ela é virgem quando transa com ele pela primeira vez, e essa é uma das cenas mais sexys do programa. Mas muitas outras virão...
O sexo entre eles evolui e vira uma história de amor. Connell visita Marianne todas as tardes, e ela passa a frequentar a casa dele também. Apesar de apaixonados, escondem dos colegas o que acontece entre eles, em parte porque Connell tem medo de ser sacaneado pelos amigos, que acham Marianne fria e feia, e em parte porque Marianne não faz questão de revelar sua intimidade a ninguém.
Quando se formam no ensino médio, vão para a mesma universidade em Dublin, capital da Irlanda, a prestigiosa Trinity. Quando chegam lá, não estão mais juntos, mas as suas vidas seguem em paralelo. Eles parecem reconhecer a bênção que é encontrar e se apaixonar por pessoas verdadeiramente especiais quando se é tão jovem e sem experiência. As chances de cometer um erro fatal nessa situação é grande, e talvez por isso tanta gente acabe perdendo essas conexões profundas.
E essa é uma história romântica, não na maneira convencional, em que o que importa é saber como eles vão ficar no final, se juntos ou separados, casados ou amigos. É sobre o amor, um estudo do tema. Uma pesquisa sobre como o amor pode ter formas variadas e como afeta as pessoas profundamente, às vezes de maneiras inesperadas.
A trama resiste à estrutura tradicional de conflito e resolução, seguindo vários anos desse relacionamento sem nunca sugerir que está se encaminhando para um final arrumadinho. Isso não quer dizer que não seja um prazer assistir. É um imenso prazer. Mas o enredo quer mostrar o que as pessoas fazem com toda a dor que causam umas nas outras, toda essa linda história que eles têm juntos e como essas duas coisas são impossíveis de esquecer.
Essa não é uma série para se assistir toda de uma vez, é preciso algum tempo para deglutir cada passo do caminho de Connell e Marianne. Um bom exemplo de um show muito antecipado que alcança o padrão esperado e muitas vezes supera.