Nem só de filmes e séries vive o colunista. Nas horas vagas, como um bom fã de comédias românticas, gosto de ver reality shows do tipo Casamento às Cegas, que teve os dois últimos episódios da quarta edição brasileira lançados nesta quarta-feira (3) pela Netflix. (ATENÇÃO: o texto a seguir terá spoilers.)
Acho irresistível a proposta do programa apresentado pelo casal Camila Queiroz (sempre charmosíssima e geralmente empática com as participantes) e Klebber Toledo (um tanto apagado e costumeiramente genérico nos comentários): 16 mulheres e 16 homens têm pouco mais de um mês para achar sua alma gêmea e casar. O detalhe é que, como diz o título, o pedido precisa ser feito sem que eles se vejam. Nos capítulos iniciais, acompanhamos as conversas e os desabafos dos encontros às escuras. A sintonia pode ser imediata, mas também há participantes que não dão liga com ninguém, assim como alguns acabam atraindo vários pretendentes. Só depois de um pedir a mão da suposta cara-metade é que eles vão se conhecer pessoalmente. E aí, durante um período de convivência que inclui curtir uma espécie de lua de mel antecipada, dividir um apartamento e ser sabatinado por familiares e amigos dos noivos, cinco pares devem decidir se vão dizer sim na hora H.
Na quarta temporada, a Netflix resolveu dar uma segunda chance a quem já tinha enfrentado uma desilusão amorosa ou uma separação. Dos cinco casais que avançaram à fase da lua de mel, um se desfez no meio do caminho: Evandro, que do lado de cá da TV se vê acusado de ter abandonado um filho, e Ariela, uma das mais insuportáveis participantes na história do programa. Ainda que eu tenha empatia por seus traumas relacionados à obesidade (somos uma sociedade gordofóbica), virava os olhos a cada "whatever" ou "stereotype" proferido por ela.
(Lembrete sobre spoilers.)
Ariela tinha um competidor à altura, inclusive no emprego de palavras em inglês: Patrick, o Calvo, que não tirou o boné nem para a cerimônia do casamento com Marília. Conforme o que se podia prever, eles disseram "ainda não" um para o outro, em uníssono, antes de se beijarem na boca.
Nos outros três pares, tudo indicava um final feliz, apesar do fogo cerrado que Alexandre enfrentou ao conhecer as amigas de Renata (mas consta que já não estão mais juntos). Eu simpatizei logo de cara com Vanessa e Leonardo, que desde a fase das cabines exibiram bom humor e sintonia (e seguem juntos após o reality show, já planejando ter um filho, segundo o perfil Segue a Cami). Achei bacana o equilíbrio entre espiritualidade e carnalidade, exemplificado em uma piada que Leo fez quando, na casa de Van, encontrou o dado de um jogo erótico: "O terço em uma mão e o dado na outra!".
O amor de Vanessa por Leonardo e o de Leonardo por Vanessa me fez rir e também chorar ao longo da temporada. Mas foi no casamento de Ingrid e Leandro que eu desabei. Chorei tanto! E foram lágrimas literalmente analgésicas: graças a elas, consegui desvirar um cílio que estava irritando o olho direito.
Ambos negros, a arquiteta Ingrid Santa Rita e o personal trainer Leandro Marçal tiveram uma trajetória muito pé no chão. Demonstravam admiração um pelo outro, mas também suas inseguranças. Por exemplo, externaram dificuldades no campo sexual e no campo financeiro. Havia, portanto, alguma dúvida quanto ao que diriam no altar (spoiler da vida real: o "sim" não durou muito, de acordo com o Segue a Cami).
A celebrante do casamento, a baiana Val Benvindo, também foi protagonista da minha emoção.
— Um altar preto, potente — começou Val, incluindo-se como personagem. — E aqui é importante dizer que corpos pretos são políticos e merecem também afeto. Não usei uma conjunção de adversidade. Eu usei uma conjunção de adição, porque a gente luta e também ama. A gente merece ser amada e amado. A relação de vocês começou cheia de girassóis, lá nas cabines, quando o Leandro fez o pedido. Mas, como toda relação real, nem tudo foram flores.
A edição criou certa tensão, dilatando o tempo antes do "Sim!" de Leandro. Esplendorosa e emocionada, Ingrid fez coro, deu um suspiro e, então, proferiu um discurso comovente:
— A maior dificuldade da mulher forte é conseguir lidar com as feridas que lhe fizeram forte. Pra ser profundamente sincera, não é fácil chegar aqui e acreditar que, dessa vez, será tudo diferente do que já vivi. Meu medo, por diversas vezes, foi a minha proteção. Hoje escolhi que não vou lutar. Escolhi baixar minhas armas e meus escudos e dizer que aceito você pra minha vida. Te amo.
No dia 10 de julho, saberemos, pela boca dos próprios participantes, o que aconteceu depois do altar. É nesse dia que a Netflix vai lançar Casamento às Cegas 4: Uma Nova Chance — O Reencontro.