Tem sessões de pré-estreia nesta quarta-feira (3) e entra em cartaz nos cinemas na quinta (4) Meu Malvado Favorito 4 (Despicable Me 4, 2024), o sexto filme da franquia de animação com a maior arrecadação nas bilheterias. Juntos, os cinco título anteriores — Meu Malvado Favorito (2010), Meu Malvado Favorito 2 (2013), Minions (2015), Meu Malvado Favorito 3 (2017) e Minions 2: A Origem de Gru (2022) — somaram US$ 4,64 bilhões. Esse desempenho comercial supera o dos seis longas Shrek/Gato de Botas (lançados entre 2001 e 2022), que faturaram US$ 4 bilhões; o de Toy Story (cinco entre 1995 e 2022, quando saiu Lightyear), com US$ 3,27 bilhões; e o de A Era do Gelo (cinco produções cinematográficas entre 2002 e 2016), com US$ 3,21 bilhões.
É fácil explicar o sucesso do protagonista Gru, de suas adoráveis filhas adotivas e dos ora engraçados, ora enervantes Minions. No Brasil, um fator extra é o acerto na adaptação do título, que pegou de primeira, assim como as pequenas criaturas amarelas foram adotados em memes e em neologismos. Na versão original, contou pontos o elenco de vozes com comediantes de peso, como Steve Carell, Jason Segel, Russell Brand, Will Arnett e Kristen Wiig — no nosso país, os principais dubladores são os populares Leandro Hassum e Maria Clara Gueiros.
Gru surgiu como um vilão que queria o que todos queremos, ser motivo de orgulho para a mãe — mesmo que para isso tivesse de roubar a Lua —, e aos poucos foi se transformando em um paizão. O ritmo da comédia, com fartas doses de pastelão e algumas pitadas de sentimentalismo, ornada por pérolas da música pop (como Happy, de Pharrell Williams, do segundo filme, indicada ao Oscar), agrada crianças e adultos — estes últimos também podem se divertir com um punhado de referências.
A despeito do êxito nos borderôs, os xodós do estúdio Illumination e da companhia Universal só chegaram perto do Oscar da categoria uma vez, quando Meu Malvado Favorito 2 concorreu. Não será com Meu Malvado Favorito 4 que voltarão à premiação da Academia de Hollywood.
Dirigido por Chris Renaud, que comandou com Pierre Coffin os dois primeiros títulos, o sexto filme mostra que a franquia se esgotou. Vive de requentar tramas e piadas, aí incluída a nostalgia dos anos 1980. Se Meu Malvado Favorito 3 apresentou Bathazar Bratt, um ladrão obcecado com o personagem de TV que interpretava naquela década, Meu Malvado Favorito 4 traz como vilão Maxime Le Mal, que nunca perdoou Gru por um acontecimento no show de talentos do colégio, em 1985.
O filme começa no presente, durante uma festa com ex-alunos de uma escola francesa, onde Maxime revela que se transformou numa barata humana. Gru e os agentes da Liga Antivilões conseguem prendê-lo, mas Maxime foge da prisão e promete vingança contra Gru e sua família, que agora conta com o bebê Gru Jr.
A solução é realocar Gru, Lucy e as crianças, com novas identidades — o protagonista, por exemplo, vira Chet Cunningham, um vendedor de painéis solares. Para não atrair olhares curiosos, estarão juntos apenas três Minions. O restante vai para a sede da Liga Antivilões, onde cinco deles ganham superpoderes. Paralelamente, conhecemos Poppy, a filha adolescente dos vizinhos, dublada no Brasil por Lorena Queiroz, revelada na novela Carinha de Anjo (2016-2018).
Um dos problemas de Meu Malvado Favorito 4 é o vilão francês sem charme — que, na dublagem afrancesada brasileira, chega a ser ininteligível em alguns diálogos. Outro é o excesso de subtramas, nenhuma realmente interessante — e com uma cola pouco firme entre elas: especialmente quando os Minions surgem em cena, a impressão é de que estamos diante de uma sucessão de esquetes cômicos, e não de um filme. Mais grave é a enorme sensação de déjà vu, realçada no número musical que recria um sucesso oitentista da dupla Tears for Fears, Everybody Wants to Rule the World. Os momentos supostamente engraçados são telegrafados: conseguimos antever o desfecho de cada traquinagem ou trapalhada dos simpáticos monstrinhos amarelos agora transformados em super-heróis. Assim, os 90 minutos de duração parecem ser intermináveis. Descontada a diferença brutal de qualidade, é como se estivéssemos vendo a trilogia O Poderoso Chefão (1972-1990) de uma sentada só.