A HBO Max adicionou recentemente a seu catálogo um dos filmes mais festejados pelos fãs do diretor David Fincher: Zodíaco (2007), que, curiosamente, é um dos raros na carreira do cineasta estadunidense a não receber indicação ao Oscar.
Fincher, hoje com 60 anos, concorreu três vezes ao prêmio da Academia Hollywood, sempre em melhor direção: O Curioso Caso de Benjamin Button (2008), que disputou 13 categorias e faturou as de direção de arte, maquiagem e efeitos visuais, A Rede Social (2010), que no total disputou oito estatuetas douradas e levou as de roteiro adaptado, edição e música, e Mank (2020), que teve 10 indicações e venceu em fotografia e design de produção.
Alien 3 (1992) competiu pelo troféu de efeitos visuais. Seven: Os Sete Crimes Capitais (1995) foi indicado em montagem. Clube da Luta (1999), em edição de som. Millenium: Os Homens que Não Amavam as Mulheres (2011) ganhou em edição e brigou por outras quatro categorias. Garota Exemplar (2014) colocou Rosamund Pike na lista do Oscar de melhor atriz.
Lançado no Festival de Cannes, Zodíaco recria os anos em que a cidade de San Francisco e o norte da Califórnia, nos Estados Unidos, ficaram em pânico com os crimes e as ameaças de um assassino serial. O matador, que se apresentava como Zodíaco nas cartas e mensagens cifradas enviadas à imprensa, começou a agir em 1969 e jamais foi descoberto — o principal suspeito morreu sem que nada se provasse contra ele. Em 2021, uma equipe de 40 ex-investigadores, jornalistas e oficiais de inteligência militar afirmou ter identificado o serial killer (clique aqui se quiser saber).
Os crimes do Zodíaco e as tentativas de se chegar a ele garantem a tensão, mas o foco de Fincher está menos na caçada do que nos efeitos que ela provoca em seus protagonistas ao longo dos anos seguintes: o jovem cartunista Robert Graysmith (Jake Gyllenhaal), o repórter policial Paul Avery (Robert Downey Jr.) e o detetive David Toschi (Mark Ruffalo).
Graysmith, autor do livro homônimo no qual o filme é baseado, e Avery ficaram tão obcecados com o caso que arruinaram suas vidas pessoais — o primeiro separando-se da família que relegou a segundo plano, e o segundo afundando no álcool.
O drama de Toschi, não menos intenso, se dá no plano profissional, pela incapacidade de fazer com que sua reconhecida competência junte as peças para elucidar o caso. O personagem real inspirou o Dirty Harry vivido por Clint Eastwood em cinco filmes, de Perseguidor Implacável (1971) a Dirty Harry na Lista Negra (1988), e o detetive encarnado por Steve McQueen em Bullit (1968).
Por focar nas vidas pessoais desses três homens, Fincher abre mão do virtuosismo visual que costuma imprimir em suas obras. Mas exibe talento para conduzir um thriller policial que prescinde da ação para se manter eletrizante.