Ticiano Osório
Os bastidores de Dolittle, em cartaz a partir desta quinta-feira (20) nos cinemas, prenunciavam o caro abacaxi em que se transformou o filme protagonizado por Robert Downey Jr. (o Homem de Ferro, como brincou meu colega Carlos André Moreira, virou o Homem das Feras). A um custo final de US$ 175 milhões, a produção já começou com pé torto: para assinar a nova adaptação do clássico literário sobre o veterinário que tem a habilidade de falar com os animais, o estúdio Universal escalou Stephen Gaghan, um cineasta sem o menor traquejo para personagens digitais, gerados por efeitos visuais, nem para a comédia de aventura com foco no público infantil. Bastava olhar para seu currículo, cheio de drama e de densidade: como roteirista de Traffic (2000), que lhe valeu um Oscar, traçou um panorama do narcotráfico entre os Estados Unidos e o México; em Syriana (2005), que ele também dirigiu, procurou desvendar os podres da indústria petrolífera; em Ouro (2016), acompanhou o filho de um garimpeiro e um geólogo na busca pelo metal precioso na Indonésia.