Chegou a sexta-feira, dia oficial da lista de 10 de coluna.
Desta vez, misturei cinema e streaming, destacando filmes que estrearam nos cinemas (ou em plataformas) e séries que concorrem ao prêmio Emmy na segunda-feira (12).
Clique nos links se quiser saber mais sobre os títulos.
2 Coelhos (2012)
O filme já tem 10 anos, mas entra na lista porque acabou de ser adicionado ao catálogo do Telecine, dentro do Globoplay. Escrito e dirigido pelo paulista Afonso Poyart, 2 Coelhos divide opiniões. O que é virtude para uns será defeito para outros. Uns vão dizer que o filme copia Quentin Tarantino e Guy Ritchie, e que o cinema brasileiro não deveria importar fórmulas. Outros entendem que a obra, à época de seu lançamento, preenchia uma lacuna na cinematografia nacional, a do subgênero dos filmes de roubo (descontando o tinhoso Assalto ao Banco Central, que havia estreado um ano antes, em 2011). Na minha opinião, 2 Coelhos não deve nada às produções de Hollywood, a não ser, claro, a inspiração estilística. Na trama ambientada em São Paulo, Fernando Alves Pinto interpreta um cara viciado em games e pornô que bola um plano para, ao mesmo tempo (daí o nome do filme), ganhar milhões de dólares e colocar em rota de colisão bandidos malvadões e políticos corruptos. No meio do caminho, ele cruzará com personagens como uma promotora maluquete, vivida por Alessandra Negrini, um garçom sorumbático, papel de Caco Ciocler, e um motoboy ladrão, o rapper Thaíde. (Canal Telecine do Globoplay)
Succession (2018-)
É a campeã de indicações ao Emmy: 25, sendo 14 nas categorias de interpretação. A terceira temporada já ganhou o prêmio de melhor elenco, e na noite de segunda disputa os de melhor série dramática, direção (Mark Mylod, Lorene Scafaria e Cathy Yan), roteiro, ator (Jeremy Strong e Brian Cox), ator coadjuvante (Kieran Culkin, Matthew Macfadyen e Nicholas Braun) e atriz coadjuvante J. Smith-Cameron e Sarah Snook). Succession faz um retrato impiedoso e sarcástico, mas com espaço para algum afeto, da família de Logan Roy (Brian Cox), dono do quinto maior conglomerado de mídia e entretenimento - a Waystar Royco comanda jornais, canais de TV, sites, estúdios de cinema, cruzeiros, parques temáticos etc. Como o título indica, a sucessão na empresa deflagra os atritos, as mancadas e as puxadas de tapete neste "ninho de serpentes", a definição dada pelo tio Ewan. Estamos diante de uma fauna com traços shakespearianos — aliás, a peça Rei Lear é uma inspiração assumida. Há o empresário tirano, o primogênito que parece o bobo da corte por conta das asneiras ditas, o filho covarde que finge ser corajoso, o genro que procura ser querido por todos mas que sabe ser abusivo, o primo pobre que quer ascender, a filha que procurou trilhar outro caminho... Ao acompanhar a movimentação desses tipos, a série consegue mexer com sentimentos conflitantes que podemos ter em relação aos super-ricos: raiva, inveja ou um certo alívio por não estarmos em seu lugar. (HBO Max)
5 Casas (2020)
Este documentário foi o grande vencedor da Mostra Gaúcha de longas no 50º Festival de Gramado, em agosto, com quatro Kikitos: melhor filme, direção (Bruno Gularte Barreto), montagem (Vicente Moreno) e o prêmio do Júri Popular. A trama de 5 Casas se passa em Dom Pedrito, município com 38 mil habitantes localizada entre Santana do Livramento e Bagé, na fronteira com o Uruguai. É o lugar onde nasceu e cresceu Barreto, que na infância perdeu a mãe e o pai em um intervalo de quatro anos. Muito tempo depois de ter saído de lá, ele retorna para lidar com as próprias memórias e com as pessoas que deixou para trás quando foi embora, como o cineasta diz na narração. O que começa como uma viagem interior se transforma em um retrato do Interior, no qual as tintas do afeto e da simplicidade dividem a paleta com algumas cores mais sombrias: a exploração da mão de obra campeira, o uso de agrotóxicos, o racismo, a homofobia, o bullying, a especulação imobiliária, o desamparo dos mais velhos, o apagamento, o silenciamento. (Em cartaz na Cinemateca Capitólio, no Espaço Bourbon Country e, a partir de sábado, 10/9, na Sala Eduardo Hirtz)
Ted Lasso (2020)
Depois de a primeira temporada vencer sete Emmys, incluindo melhor série cômica, ator (Jason Sudeikis), atriz coadjuvante (Hannah Waddingham) e ator coadjuvante (Brett Goldstein), a segunda surgiu como favorita entre as comédias na premiação de 2022 — foram 20 indicações. Ted Lasso começa com uma vingança: para sacanear o ex-marido que vivia traindo-a, a dona do fictício Richmond, Rebecca Welton (Hannah Waddingham), resolve arruinar aquilo que ele mais ama, entregando o time da Premier League nas mãos de alguém que não entende nada de futebol. O negócio de Ted Lasso é o futebol americano, aquele disputado com bola oval e capacetes. Não é spoiler dizer que o clube vai enfrentar o fantasma do rebaixamento. E a esta altura do campeonato também não é mais segredo que o protagonista, com sua inteligência emocional, nos ensina que, mais importante do que vencer, é desenvolver pessoas, nos lembra do que realmente importa na vida e nos contagia com seu otimismo. (Apple TV+)
Dopesick (2021)
Está indicada aos troféus Emmy de melhor minissérie, direção (Danny Strong), roteiro, ator (Michael Keaton), ator coadjuvante (com três concorrentes: Will Pulter, Peter Sarsgaard e Michael Stuhlbarg) e atriz coadjuvante (Katilyn Dever e Mare Winningham). Com idas e vindas no tempo, Dopesick mostra como a Purdue Pharma promoveu de forma agressiva e mentirosa o OxyContin, analgésico considerado responsável pela crise de opioides que provocou 500 mil mortes nos EUA a partir de 1999. Há cinco núcleos narrativos. O principal é o de Finch Creek, uma fictícia cidade onde moram o médico Samuel Finnix (Michael Keaton) e a jovem Betsy Mallum (Kaitlyn Dever), operária em uma mina de carvão. Em outras duas pontas, estão personagens reais. Dona da farmacêutica, a família Sackler vive em meio a intrigas e disputas por conta da ambição de Richard Sackler (Michael Stuhlbarg). E Rick Mountcastle (Peter Sarsgaard) e Randy Ramseyer são dois promotores públicos que querem investigar e levar a empresa ao tribunal. (8 episódios, Star+)
The White Lotus (2021)
É a minissérie com o maior número de indicações ao Emmy: 20, sendo que já faturou cinco categorias. Na noite de segunda-feira, estará disputando os troféus de melhor minissérie, direção (Mike White), roteiro, ator coadjuvante (Murray Bartlett, Steve Zahn e Jake Lacy) e atriz coadjuvante (Connie Britton, Jennifer Coolidge, Alexandra Daddario, Natasha Rothwell e Sydney Sweeney). Conjuga de modo brilhante comédia cáustica, drama, mistério policial e crítica social — o alvo é o privilégio branco, a elite que jamais cede seu lugar ou estende a mão sem querer nada em troca.
Em um aeroporto, descobrimos que alguém foi assassinado no White Lotus, um resort de luxo no Havaí. Aí, a trama de The White Lotus recua uma semana no tempo para acompanhar a chegada de um grupo de novos hóspedes. Temos o milionário mimado Shane (Jake Lacy), recém casado com Rachel (Alexandra Daddario), uma jornalista em crise existencial. No barco, ainda está a família de Nicole (Connie Britton), empresária que não para de trabalhar mesmo nas férias: seu marido, Mark (Steve Zahn), ressentido por ganhar menos do que a esposa, a jovem Olivia (Sydney Sweeney), que trouxe junto uma amiga, Paula, que por sua vez trouxe um farnel de drogas, e o adolescente Quinn, mais interessado no seu celular e no seu game. Completa a lista Tanya (Jennifer Coolidge), ricaça carente e alcoolista que veio ao Havaí para jogar no mar as cinzas de sua falecida mãe. Essa turma será recepcionada pelo gerente Armond (Murray Bartlett), Belinda (Natasha Rothwell), que administra o spa, e o garçom Kai, entre outros. Os três representam a classe trabalhadora — que, como diz Armond, precisa ser invisível, mas estar sempre pronta para servir — e também as populações marginalizadas. Armond é gay, Belinda, mulher e negra, e Kai simboliza os nativos que foram dizimados ou, na melhor das hipóteses, expulsos de suas próprias terras pelos colonizadores brancos. (6 episódios, HBO Max)
Elvis (2022)
A cinebiografia dirigida por Baz Luhrmann, o mesmo de Romeu+Julieta (1996) e Moulin Rouge! (2001), e narrada pelo pernicioso coronel Parker (Tom Hanks), empresário de Elvis Presley (encarnado pelo até então ilustre desconhecido Austin Butler) é um frenesi, um filme que exigia ser visto no cinema — de preferência, em pé. Mas quem deixou para assistir a Elvis no streaming pelo menos tem a possibilidade de rever uma cena quantas vezes você quiser, comparar a interpretação de Butler com apresentações originais (como a de If I Can Dream, do especial de TV de 1968) e, vá lá, interromper a sessão para fazer alguma pesquisa no Google ou no YouTube. (HBO Max)
Men: Faces do Medo (2022)
Em cartaz desde quinta-feira (8) nos cinemas, é o terceiro longa-metragem dirigido por Alex Garland, de Ex-Machina (2014) — pelo qual foi indicado ao Oscar de melhor roteiro original — e Aniquilação (2018). Jessie Buckley (que disputou a estatueta dourada de atriz coadjuvante por A Filha Perdida) interpreta Harper, uma mulher que aluga uma casa de campo para tentar se recuperar de um trauma ligado a James (Paapa Essiedu, o Kwame da minissérie I May Destroy You), o marido de quem ela queria se divorciar. A partir daí, Men aborda o terror do patriarcado e da masculinidade tóxica, investindo em diálogos incisivos, imagens perturbadoras e pelo menos um lance genial: todos os homens que passam a fustigar Harper são interpretados pelo mesmo ator — Rory Kinnear, dos seriados Penny Dreadful e Nossa Bandeira É a Morte). (Em cartaz no Cinemark Wallig, Espaço Bourbon Country e GNC Iguatemi)
O Próximo Passo (2022)
Terceiro filme francês mais visto na temporada (1,8 milhão de espectadores), estreou nesta quinta-feira (8) nos cinemas, depois de fazer sucesso de público também no Festival Varilux. O Próximo Passo tem direção de Cédric Klapisch, realizador de O Albergue Espanhol (2002) e Bonecas Russas (2005). Na trama, Elise (Marion Barbeau), uma jovem e elogiada bailarina clássica, machuca-se em uma apresentação após flagrar a traição do namorado. Apesar dos especialistas dizerem que ela não conseguirá mais dançar, ela vai batalhar para se recuperar, buscando novos rumos no mundo da dança contemporânea. Embora perca o foco de vez em quando e não desenvolva bem todos os personagens e conflitos, o diretor, quando se concentra no corpo dos atores e dos dançarinos, oferece momentos ora radiantes, ora comoventes, ora engraçados, ora sublimes (vide a surpreendente cena da dança no vento). E é um filme que vem bem a calhar nestes tempos pandêmicos, com seu espírito otimista e a busca de Elise por "uma segunda vida". (Em cartaz no Espaço Bourbon Country)
Ruptura (2022)
Já ganhou dois Emmys (música e créditos de abertura) e concorre a mais seis na segunda-feira: melhor série dramática, direção (Ben Stiller), roteiro, ator (Adam Scott), atriz (Patricia Arquette) e ator coadjuvante (John Turturro e Christopher Walken). É uma espécie de cruza entre The Office (2005-2013), Black Mirror (2011-2019) e Homecoming (2018-). A porção comédia de escritório puxa mais para o humor absurdo ou mesmo para o riso nervoso; a ficção científica espelha inquietações reais, com novas tecnologias potencializando anseios, crises e vícios da sociedade contemporânea; e há drama e suspense por conta de algum tipo de lavagem cerebral. Ruptura (no original, Severance) gira em torno de uma empresa, a Lumon, que descobriu uma maneira de separar, cirurgicamente, a vida profissional da pessoal. À primeira vista, parece uma relação ganha-ganha: ninguém leva para o escritório os problemas domésticos, ninguém volta para casa com o estresse do trabalho. Mas é claro que há implicações éticas, dilemas morais e consequências psicológicas na divisão entre os innies (as personas que só vivenciam sua própria existência dentro da Lumon) e os outies (as personas externas, que não têm lembrança das rotinas internas). (Apple TV+)