Assisto a muitos filmes de terror, mas poucos realmente me provocaram medo como Os Estranhos (The Strangers, 2008), que está disponível na HBO Max.
O medo, vale lembrar, no fundo é um sentimento muito útil. O psicanalista Mário Corso já explicou certa vez:
— O medo organiza a angústia. A angústia é muito pior do que o medo, porque é difusa, não tem um objeto. Quando se direciona a angústia para o medo, tem-se um objeto para esse sentimento.
Objeto: creio que Os Estranhos impacta justamente por lidar com uma ameaça concreta — não há nada de sobrenatural. E amedronta porque nos ataca onde mais deveríamos nos sentir seguros: dentro de casa.
Os Estranhos foi escrito e dirigido pelo então estreante Bryan Bertino — depois, o cineasta texano assinaria Perseguidos pela Morte (2014), Um Monstro pelo Caminho (2016) e o elogiado The Dark and the Wicked (2020), além de coescrever o roteiro de uma desnecessária e malfadada sequência, Os Estranhos: Caçada Noturna (2018). O filme original inspira-se em duas histórias reais. Uma é de foro íntimo: uma série de invasões domiciliares que aconteceram no bairro onde Bertino morava na infância. A outra ficou célebre: os assassinatos cometidos pela seita de Charles Manson em 1969, em Los Angeles. (Há jornalistas que também encontraram ressonâncias de um homicídio quádruplo ocorrido em 1981, em Keddie, na Califórnia, e jamais resolvido.)
Podemos situar o filme no subgênero "jovens que entram em uma roubada em uma casa de campo". Os personagens principais são Kristen (interpretada por Liv Tyler) e James (encarnado por Scott Speedman). Namorados, os dois estão voltando do casamento de um amigo. Há uma tensão cortante, pois Kristen rejeitou o pedido que James fez para que se casassem. Pouco depois das 4h, as coisas vão piorar. Bastante.
Tudo começa com uma batida forte na porta. A partir daí, um trio de mascarados passa a aterrorizar os protagonistas.
A experiência do espectador torna-se aflitiva por três motivos. Primeiro: a curta duração, 86 minutos, não permite respiro. Segundo: o filme não procura justificativa, não há uma punição moral — o casal estava apenas no lugar errado na hora errada. Terceiro: a engenhosidade cênica. De modo geral, os sádicos vilões aparecem ao fundo, num cantinho da tela ou desfocados. Nós sabemos que eles estão dentro da casa, mas Kristen e James não. Somos sufocados pela expectativa.