Eles estão separados por menos de 300 metros, instalados em construções icônicas da capital gaúcha e abrigam parte da memória da medicina do Estado. Você será surpreendido pelo tanto de história e aspectos do cotidiano de Porto Alegre e do RS ao visitar o Museu de História da Medicina do Rio Grande do Sul (MUHM), no Hospital Beneficência Portuguesa, e o Museu Joaquim Francisco do Livramento, do Centro Histórico-Cultural Santa Casa (CHC). Um pouco de cada um a seguir, na véspera do Dia do Médico, a dois dias dos 220 anos da Santa Casa e da inauguração de um novo hospital.
No Centro Histórico Cultural Santa Casa
Criado em 1994 e no interior do Centro Histórico Cultural Santa Casa (CHC) desde 2014, quando foi inaugurado o centro cultural de 3.740 metros quadrados, o museu tem 5 mil objetos, com peças dos séculos 19 e 20, percorrendo a história da instituição e do Estado (no CHC há ainda um teatro, com 284 lugares, e o arquivo da Santa Casa, com registros e prontuários médicos desde 1843).
Entre as muitas curiosidades do museu – com instrumentos médicos, móveis, imagens sacras oriundas da Capela Nosso Senhor dos Passos etc. –, chama a atenção, sempre, a Roda dos Expostos, réplica do equipamento instalado em 1837 e só desativado em 1940 para receber crianças abandonadas; os cenários recriados no museu representando as enfermarias para militares feridos em combates nos conflitos do território; e instrumentos usados na primeira maternidade pública do Estado, assim como a botica (farmácia) existente desde o século 19.
Diante dos milhares de profissionais que circulam pelo complexo hoje, é difícil imaginar que, em 1882 havia apenas três médicos ali, como informa um dos textos da exposição permanente – é preciso lembrar que, quando o hospital nasceu, em 1803, Porto Alegre tinha cerca de 4 mil habitantes. Também pode ser novidade para muitos saber que em 1946 o padre Fernando Müller instalou na Santa Casa uma estação radiofônica que distribuía música e informações para as enfermarias por meio de 50 caixas de som – o sistema funcionou durante anos e, desativado, retornou nos anos 1980, mantido até 1992.
A parte mais visível do CHC é a fachada colorida do conjunto de casas do início do século 20, na Avenida Independência. É o primeiro convite para ingressar nesse bem preservado espaço da cultura e memória da cidade.
Para visitar
Segunda a sábado, das 8h às 19h30min (Av. Independência, 75, fone 51 3214-8255, em Porto Alegre). Acesso gratuito. Todos os eventos estão na plataforma Sympla.
No Beneficência Portuguesa
É uma pena que o prédio que abriga o museu, hospital que chegou a contar com 270 leitos, já não tenha suas funções originais – envolvido em dificuldades, o Beneficência Portuguesa, o segundo mais antigo da cidade, fechou as portas em 2022. Mas pelo menos o MUHM, mantido pelo Sindicato Médico do RS, segue preservando parte da construção do século 19, desde 2007 ocupando a entrada com salas expositivas e um acervo de mais de 15 mil documentos e 8 mil livros.
O acervo, explicou a museóloga Angela Pomatti numa visita guiada que fiz, reúne diversas especialidades médicas, com documentos e instrumentos dos séculos 19 e 20, a maioria fruto de doações. É uma viagem pela medicina e pela ciência desde os primórdios da cidade, mostrando os desafios e a evolução. Uma das peças mais emblemáticas é o “pulmão de aço”, aparelho que pertenceu a Mario Rigatto, usado para tratar doenças respiratórias.
Onde hoje ficam as salas de exposições, funcionavam uma enfermaria e a farmácia – uma das salas reverencia a memória da gaúcha Rita Lobato Velho Lopes, primeira mulher formada em Medicina no país. Quando o visitei, aliás, sobressaía a homenagem aos 125 anos da Faculdade de Medicina de Porto Alegre, completados em 2023, e a memória das médicas Alice Hess Maeffer, formada em 1904, e de Noemy Valle Rocha, diplomada em 1917.
Já os destaques arquitetônicos internos ficam por conta das pinturas murais e do piso em granitina, além da porta com vitrais coloridos. A museóloga e a equipe que receberam o grupo ressaltaram a disponibilidade do acervo, tanto presencial quando online, e a possibilidade de receber educadores, estudantes e a comunidade. Ah, não custa lembrar, como curiosidade, que na maternidade do hospital nasceram nomes proeminentes como a cantora Elis Regina (1945-1982) e o médico e escritor Moacyr Scliar (1937-2011).
Para visitar
Segunda a sexta, das 10h às 18h (Av. Independência, 270, em Porto Alegre, fone 51 3330- 2963). No perfil do Instagram @muhm_rs você confere eventos educativos e culturais promovidos regularmente. Gratuito.
Lembrando...
DOIS PROJETOS PROMOVEM VISITAS GUIADAS NO CENTRO DA CAPITAL
- Visitas Culturais: uma vez por mês, promovidas por equipe da Arquidiocese de Porto Alegre (visitasculturais@arquipoa.org.br e facebook/visitasculturais). A próxima será dia 21, na Capela Divino Espírito Santo e no Santuário Santa Teresinha do Menino Jesus.
- Badejo Experiências Culturais: caminhadas guiadas, em roteiros diversos. Os próximos serão nos dias 21 e 28. (@badejoexperiênciasculturais).
BÔNUS
- Ao lado do MUHM e a caminho do CHC, a Igreja da Conceição é passagem obrigatória. Com interior riquíssimo, obra do entalhador português João do Couto e Silva, foi inaugurada em 1858 e tornada paróquia em 1889. Entre 2009 e 2011, sofreu restauração interna, que lhe devolveu a beleza e as cores originais. Na última visita, conheci o subsolo, onde fica o Salão Nobre, área renovada que pode receber até 200 pessoas, disponível para eventos da comunidade e para aluguel.