Como turista, talvez você tenha frequentado o Parque Estadual de Itapuã, parte do Parque Saint-Hilaire e empreendimentos como O Butiá pensando ainda estar no território da capital gaúcha. São de fato sutis os limites entre Porto Alegre e Viamão, e as terras do maior município da Região Metropolitana, com 1,5 mil quilômetros quadrados, desde o início de seus quase 300 anos sempre tiveram contornos imprecisos.
Pois é preparando a comemoração desses três séculos (a data oficial é 14 de setembro de 2041) que o livro Viamão 300 Anos, com organização de Elmar Bones e José Barrionuevo, trata de colocar os pingos nos is, valorizando antigas e novas atrações, situando incautos e incentivando empreendimentos e o próprio setor do turismo, que, no último dia 14, ganhou até uma secretaria específica na cidade.
Estão na imensa diversidade natural as principais apostas, mirando no turismo rural, náutico e ambiental — 80% do território é de áreas rurais e 37% de preservação ambiental. Mas não só. É tanto, que o livro com mais de 200 páginas, que terá lançamento na Capital no dia 3, teve de ser dividido em três partes: Campos de Viamão, Tesouros Ambientais e Caminhos de Viamão. Embora seja difícil separar a história e a geografia das atrações turísticas, vou me concentrar nessas últimas.
Um dos detalhes a saber é que Viamão sempre levou a fama de cidade de passagem — em 2022, um terço dos moradores ainda saía para trabalhar em outras cidades. Os textos enfatizam que, mesmo agora, quando pode ser verificado um "movimento lento e persistente" de produção de orgânicos, de desenvolvimento do ecoturismo e da consolidação de centros de espiritualidade, de certa forma os novos empreendedores seguem oferecendo muito do que se viu no passado: pouso e alimento. Não é pouco, é?
A seguir, um resumo do que você pode encontrar (ao vivo e no livro) em Viamão para valorizar um dos primeiros municípios do RS:
Espiritualidade: há oito templos budistas e zen budistas e centros de terapias alternativas — um dos mais antigos é o Centro de Estudos Budistas Bodisatva, de 1986, dirigido pelo Lama Padma Samten.
Quinta da Estância: o atual complexo de 125 hectares, no qual o foco é a educação ambiental, nasceu nos anos 1990 no sítio de Sônia e Lucídio Goelzer. Ao longo de 30 anos, já recebeu mais de 1,5 milhão de visitantes.
O Butiá: há 10 anos, Henrique e Desireé Möller abriram ao público a fazenda de 200 hectares à beira do Guaíba onde criam búfalos, plantam arroz orgânico e promovem eventos regados a música e comida.
Vila Ventura: o ecoresort especializou-se em receber e promover eventos esportivos e está incrementando as instalações com uma piscina aquecida e ondas artificiais.
Vinícolas e cervejaria: na Zapata, primeira cervejaria rural do país, há quase 10 anos são produzidos chopes e cervejas "vivas", sem pasteurização. Pequenas vinícolas como a Finca Tuíra, Pianegonda e Quinta Barroca da Tília investem em vinhos orgânicos.
Flores, oliveiras e azeites: entre os inúmeros produtores, chamam atenção a Nektarium, especializada em orquídeas, palmeiras e bambus; a Vivenda Scapini, que tem 300 mil mudas de oliveiras plantadas; e a Estância das Oliveiras, com plantio de oliveiras e produção de azeites premiados mundo afora.
Orgânicos e ensino ambiental: entre outros alimentos, há uma significativa produção de arroz orgânico e espaços como o Complexo Ambiental Sustentável Educacional, a Escola Técnica de Agricultura (407 hectares e mais de 300 alunos) e o Assentamento Filhos de Sepé.
Lagoas, parques, figueiras: as águas que banham Viamão (o Guaíba, a Lagoa do Casamento e dos Patos) formam 108 quilômetros de orla e os quase 40% do território protegido abarcam o Parque Estadual de Itapuã, o Banhado Grande e boa parte do Parque Saint-Hilaire. O geólogo Rualdo Menegat observa que poucos lugares têm a diversidade natural de Viamão — florestas, campos, banhados, dunas, morros, praias e água abundante. Na vegetação, as figueiras sobressaem.
Cavalos, pôneis e búfalos: a Estância Setembrina tem a maior criação de pôneis do Brasil (80 animais); há 6 mil cavalos crioulos registrados no município, um dos núcleos mais importantes do país.
Corridas e voos: com pista de 3 mil metros, o Autódromo Internacional de Tarumã, de 1970, mantém agenda regular de corridas; nascido de uma associação de pilotos, o Aeródromo de Águas Claras conta com três hangares e acordo com a Brigada Militar e a Polícia Civil, que o utilizam como apoio.
Patrimônio e memória
Quase todas carecem de conservação, mas Viamão reúne preciosidades:
Igreja Nossa Senhora da Conceição: a primeira missa na Igreja Matriz de Viamão, ainda inacabada, ocorreu em 1770. Monumento do barroco colonial brasileiro, foi tombada como patrimônio nacional pelo Iphan em 1938.
Sede da antiga estância de Águas Belas: a data de construção é imprecisa, no início do século 19. A propriedade de 88 hectares já foi privada, mas hoje pertence ao Estado e está destinada a um distrito industrial e condomínio de logística.
Casarão da Praia das Pombas: provavelmente construída entre 1733 e 1734, a propriedade particular pode ser a mais antiga do RS e chegou a ser usada como base por soldados farrapos na Revolução Farroupilha.
Hospital Colônia de Itapuã: de 1940, essa pequena "cidade" abriga mais de 40 casas, três igrejas, dezenas de pavilhões e chegou a receber 700 pacientes com hanseníase. Em fase de desocupação, hoje suas construções estão deterioradas.
Farol da Ponta de Itapuã: inaugurado em 1860, com torre de 16,25m de altura. Modernizado em 1915, desde então dispensa faroleiro e agora usa baterias alimentadas por energia solar.
O livro
- Viamão 300 Anos. 200 páginas e mais de 300 fotos, Jornal Já Editora. Prefácio de Eduardo Bueno e artigos de Vitor Ortiz, Rualdo Menegat e Rogério Mendelski
- Sessão de lançamento em Porto Alegre em 3 de agosto, das 18h às 20h, no Memorial do RS
- R$ 100 (parte da tiragem tem valor promocional de R$ 50). Financiada com recursos do Pró-Cultura, tem patrocínio da Coopernote e da Vetlog
- Informações: @livroviamao300anos