Não é a primeira vez que falo/escrevo sobre isso e sei que marinheiros de várias viagens compartilham da mesma sensação: ainda que visitar as capitais e as grandes cidades turísticas (no país ou no Exterior) seja irresistível e fonte de inúmeras experiências, às vezes há surpresas tão ou mais agradáveis em pequenas cidades ao lado (tem uma série na coluna sobre isso no RS).
Na minha última ida a Amsterdã, que visito motivada por questões afetivas/familiares, durante uma janela da pandemia, conheci mais três cidades pequenininhas, mas não com menor interesse turístico. Além de tudo, para quem não está muito habituado a viajar, são bons exercícios de autonomia, pois pode-se ir com transporte urbano, combinando ônibus/tram (bonde)/metrô.
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Volendam
A 21 quilômetros da capital holandesa, é um lugar com o qual você pode conciliar passeios a outras duas cidades: Edam (caminhada de 40 minutos) e Marken (passeio de barco de 30 minutos). Minha opção foi a primeira: de ônibus até Volendam e de lá até Edam a pé (Marken eu fiz em outro dia).
Já na chegada, vale a visita ao pequeno museu de Volendam, que mostra os tradicionais trajes holandeses — outra atração curiosa são os mosaicos criados por um colecionador a partir de 11 milhões de bandas de charutos. Há fábricas/lojas de queijo e muitas tendas de suvenires, principalmente à beira do Markermeer, o lago artificial que margeia a cidade.
Mas o melhor, nessa localidade de pescadores, é fugir da zona portuária e caminhar pelo entorno. É que a parte mais turística é poluída visualmente, mas se você se afastar verá lindos canais, pequenas pontes e casas fofíssimas. Eu não provei, mas é famoso por aqui um sanduíche e outros pratos feitos com enguia defumada, uma tradição centenária. De ônibus, Linha 316 a partir da estação Amsterdam Centraal.
Edam
Ela já teve reconhecimento por atividades como a pesca e a construção naval e figurou entre as principais cidades da Holanda, mas são os queijos hoje que atraem as atenções nesta cidade a 22 quilômetros da capital. Alguns armazéns que vendem o produto — revestidos por uma cera vermelha e exportados para todo o mundo — datam do século 18 e, nos meses de verão, às quartas-feiras, é possível ver como são vendidos no mercado de queijo (do lado de fora, fica a curiosa estátua dos carregadores de queijo).
Também merece uma visita a Grote Kerk, igreja do século 17 com belos vitrais. Lamentei ter ido a Edam em uma segunda-feira, quando muitas atrações não funcionam, mas em compensação foi delicioso andar por suas ruas vazias. Uma dica é sentar-se em uma mesa da área externa do hotel De Fortuna, à beira do canal, para um café, drink ou mesmo uma refeição. Você pode ir a pé de Volendam a Edam (40 minutos de caminhada). A partir da estação Amsterdam Centraal, ônibus da linha 312 ou 314 levam 25 minutos para percorrer o trajeto.
Marken
Essa ilha de pescadores, a 23 quilômetros de Amsterdã, foi separada do continente por uma tempestade, no século 13, e religada por um dique só em 1957, tornando-se então uma península. Dizer que tem casas de madeira bem conservadas, é cortada por canais cenográficos e pontes móveis parece pouco e dá a ideia de que se poderia estar falando de qualquer cidade da Holanda.
Marken é mais do que isso e talvez o isolamento tenha feito com que se preservasse tão bem. As casas de madeira pintadas em verde e branco até o século 17 eram construídas em colinas artificiais, sobre estacas, para fugir das inundações. Com pouco tempo, um turno é suficiente para percorrer a pé as ruazinhas, ver a fábrica de tamancos de madeira, o museu que mostra as tradições locais e o farol de 1839. Com mais tempo, a recomendação é um almoço demorado à beira do pequeno porto, por onde chega um barco de passeio, já citado, que pode levá-lo a Volendam. Ah, em Marken comi a melhor das famosas tortas de maçã holandesas. Leva-se meia hora de ônibus a partir de Amsterdam Noord, com o ônibus 315.
Andando um pouco mais
Não é tão perto de Amsterdã, mas considerando as distâncias a que estamos acostumados no Brasil... Maastricht, no sul do país, fica a umas duas horas e meia de trem da capital, com várias frequências diárias, e o destaque aqui não é a cidade, mas um ponto bem específico e lembrei dele a partir da notícia de que a livraria Bamboletras passou a ocupar uma antiga igreja da Avenida Venâncio Aires, em Porto Alegre.
Em Maastricht, fica a Dominicanen bookshop, livraria no interior de uma igreja gótica dessacralizada. Inaugurado na segunda metade do século 13, fechado por Napoleão em 1794, o templo já serviu de espaço para tudo — estábulo, depósito, casa de shows, bicicletário — até ser restaurado em 2006. O projeto ganhou o maior prêmio de arquitetura holandês, o Architect Interior Prize, em 2007, e o jornal inglês The Guardian já a escolheu como a livraria mais bonita da Europa. Nos três níveis do prédio, além da diversidade de livros oferecida (25 mil títulos em um acervo de mais de 50 mil exemplares), funciona como centro cultural para palestras, exposições, música. No antigo coro da igreja há uma cafeteria para um lanche rápido ou almoço.