Para dizer a verdade, o título deveria ser "a cidade ao lado da cidade ao lado". É que, nesta série, já escrevi sobre Monte Belo do Sul — menos falada do que as já bem conhecidas Bento Gonçalves e Garibaldi —, e Santa Tereza fica muito próximo de Monte Belo, a 16 quilômetros.
Mas era preciso (re)colocá-la no meu radar. Se ainda não foi, inclua no seu roteiro. Você será brindado com um dos centros históricos mais bonitos do Estado, com 25 casarões em madeira e alvenaria tombados como Patrimônio Histórico e Artístico Nacional uma década atrás, 20 anos após sua emancipação de Bento Gonçalves.
E ainda que esteja entre os menores municípios do Estado em área (74 quilômetros quadrados) e população (1.772 habitantes), não imagine um sobrevoo rápido. Nas ruas aparentemente vazias, de onde se avista o imponente campanário (projeto do italiano Massimiliano Cremonese, dos anos 1920), sempre haverá um morador disposto a contar histórias — incluindo detalhes das construções e como é difícil, apesar da vontade, mantê-las e restaurá-las. E aqui é preciso um aparte: Cremonese, o do campanário, personalidade em Santa Tereza, protagonizou um momento retratado em episódio da série Histórias Extraordinárias, da RBS TV — em resumo, narra seu (re)encontro, em Marau, nos anos 1950, com um alemão que havia sido o único sobrevivente de um combate ocorrido em 1918, na I Guerra Mundial, quando os dois se confrontaram como inimigos.
Voltemos aos dias atuais e à necessidade de ir sem pressa: nos poucos empreendimentos turísticos — apenas três meios de hospedagem, três restaurantes, dois ateliês, uma cachaçaria e quatro vinícolas —, as visitas se prolongam ao gosto da conversa.
O turismo é novo por aqui, mas a cidade está entre os locais mais antigos e marcantes da colonização italiana na região, iniciada a partir de 1875, com a distribuição das terras aos recém-chegados. Às margens do Rio Taquari, era um porto importante onde desembarcavam os imigrantes.
Ainda que sossego nunca seja demasiado, considere complementar sua visita com passeios de caiaque pelo Taquari, percursos a cavalo, de bicicleta ou dedicar-se a longas caminhadas pelos arredores emoldurados de morros verdes pontilhados por parreirais.
Ou, se der sorte, poderá deparar com algo que tem tudo a ver com Santa Tereza, onde surgiu uma das mais antigas fábricas de acordeões do país: uma apresentação da Orquestra dos Acordeões, nascida em 2007 para também eternizar a tradição da cidade.
Não deixe de visitar
Carina Atelier — A artista-proprietária o receberá com um chá de canela, cravo, mel, erva-luiza...E lhe contará como descobriu o trabalho com a cerâmica há pouco tempo, produzindo peças singulares, tendo como moldes antigos guardanapos de crochê e folhas coletadas nos arredores. Sem contar os objetos esculpidos em madeira recolhida nas redondezas e reaproveitada. Um outro artesão da cidade, o Ricardo Caumo, produz peças em madeira lembrando objetos e construções italianas, mas não consegui visitar seu atelier.
Cachaçaria Velho Alambique — Na Linha Barão de Capanema, quase à beira da via férrea, tem canaviais orgânicos próprios e inaugurou há pouco um novo prédio, que oferece visita guiada e degustação.
Para ficar — Eu me hospedei na Pousada do Valle, um imponente casarão com 130 anos, restaurado e reaberto durante a pandemia. Há sete suítes com nomes de uvas/vinhos e um dos restaurantes da cidade — o Sabores de Santa — fica no porão da construção, onde é servido o café da manhã. Há ainda a Pousada Caumo e a Casa de Campo Santa Tereza.
Para comer — O Sabores de Santa serve almoços coloniais aos sábados e domingos e, à noite, pizzas e tábuas quentes e frias. A oferta de vinhos e espumantes regionais é ótima. Não há carta, você se levanta e escolhe o vinho exposto sobre a prateleira de pedra. No Aratinga, no clube da cidade e com almoço colonial aos domingos, comi uma das melhores torradas que já experimentei. Faltou só ir à Lancheria do Alemão.
Informações: turismosantatereza.com.br
No caminho
Bello Sapore — Inclua uma parada a 200 metros da ERS-444, na Linha 80 da Leopoldina, próximo ao trevo de acesso a Monte Belo do Sul. Este misto de bistrô-armazém-café oferece almoço — inspirado na culinária da família Cecconi —, café colonial e piquenique sob os parreirais que cercam a construção, réplica das antigas casas da região. A tábua quente com polenta, embutido e queijo na chapa é uma delícia e serve duas pessoas. Aberta há pouco mais de um ano, é uma bela opção para quem quer ficar ao ar livre ou, caso sinta frio, aquecer-se junto ao fogão à lenha no interior decorado com bom gosto.