Dos 18 eventos internacionais realizados desde 2003 pela Federação Internacional de Canionismo, só um ocorreu no Brasil — uma década atrás, em 2012, na Serra da Canastra (MG). Em setembro próximo, a segunda sede brasileira será nos cânions da região dos Aparados da Serra, envolvendo nove municípios de dois Estados: SC e RS.
A partir de Praia Grande (SC), cerca de 200 praticantes autônomos deste esporte de aventura partirão, durante 10 dias, para explorar as belezas de uma das maiores cadeias de cânions verdes do mundo e que receberam a chancela como Geoparque Mundial pela Unesco.
Há por enquanto, entre os inscritos, esportistas de 14 países, dispostos a percorrer 17 vias revisadas e sinalizadas — a mais curta é uma de “cachoeirismo”, com três rapéis e duração de duas horas; a mais longa, com 19 rapéis, leva cerca de 22h30min, considerando deslocamentos de carro para ida e volta.
— O Malacara é o principal, por ser técnico, difícil e muito bonito, com cachoeiras de mais de 100 metros e exuberância de verde — diz a bióloga Tatiana Bressel, 46 anos, entre as pioneiras no RS e uma das integrantes da comissão organizadora do RIC Brasil 2022.
Um outro ícone da região é o cânion dos Índios Coroados, no final da Serra do Faxinal. Com 1,5 quilômetro de extensão e 700 metros de profundidade, é considerado um dos gigantes dos Aparados e classificado como muito difícil, exigindo elevado conhecimento técnico, condicionamentos físico, mental e emocional — a duração é de 8 a 12 horas.
Tatiana planeja fazer só três das vias previstas, já que dedicará a maior parte do tempo à organização. O entusiasmo, porém, é o mesmo da iniciante que, desde 1998, começou no canionismo pouco após uma equipe francesa dar os primeiros cursos para interessados no cânion Malacara. O que a atraiu?
— É um esporte de grupo: em vez de uma competição, todos juntos têm de “vencer” o cânion, todo mundo quer chegar junto e curtir o ambiente natural — explica.
Ela não só desvendou locais em quatro países, como, desde o início, dedicou-se a divulgar a potencialidade dos Aparados para sediar eventos, atuando para reduzir as arestas que dificultavam a prática em parques brasileiros. Encontros como o de setembro, ela ressalva, são para esportistas autônomos — não há guias, mas ninguém entra sozinho no cânion, com os grupos menores compostos por três pessoas e os maiores, por oito, para reduzir o impacto ambiental e os riscos.
Antes, houve avaliação dos locais e colocação das ancoragens fixas — pinos presos à rocha. No caso dos Aparados, Tatiana conta que alguns trocados agora haviam sido instalados em 1997 e, mesmo estando em condições, foram substituídos, por segurança. O material, em aço inox, é caro, e fica como legado do evento. A comunidade local e não praticante é envolvida, sobretudo as escolas, com atividades como palestras sobre geologia, biologia, primeiros socorros e pequenas trilhas.
Saiba mais
O QUE É O CANIONISMO
É um esporte de aventura que consiste na travessia de um cânion, com atividades como rapel, escalada, tirolesa, natação, salto e marcha aquática, sempre seguindo o leito do rio. Além de treinamento adequado e equipamento de segurança, é preciso avaliar condições meteorológicas e ter conhecimento da região.
ONDE É PRATICADO
No Brasil, os principais pontos são as serras de Minas Gerais e as chapadas dos Veadeiros (GO) e Diamantina (BA). Os cânions do RS e SC estão entre os mais bonitos, mas também os mais extensos, com água mais fria, aumentando a dificuldade.
QUEM PRATICA
O perfil dos esportistas brasileiros é jovem, mas na Europa e nos EUA, com mais tradição em esportes de aventura, há octogenários em atividade. Dois terços são homens, calcula Tatiana Bressel, mas as mulheres têm ganhado espaço.
EQUIPAMENTO E SEGURANÇA
Há equipamentos individuais e coletivos. Entre os individuais, estão cadeirinha, ferragens, capacete, bota e polainas, roupas de neoprene e mochila com compartimento estanque para lanche e roupas secas. Entre os coletivos, cordas e materiais de primeiros socorros e ferragens.
COMO COMEÇAR
A sugestão é iniciar com uma boa empresa que ofereça o canionismo comercial para conhecer o esporte.
O EVENTO
O 19º RIC (Rassemblement Internationale de Canyon) será realizado de 16 a 25 de setembro, na Praia Grande (SC). Haverá práticas de canionismo e atividades como palestras, oficinas, mesas-redondas, vernissagens e conferência médica. Três livros serão lançados, incluindo o Guia dos Cânions dos Aparados da Serra Geral, assinado por Tatiana Bressel e Leandro Bazotti. Inscrições e informações: ricbrasil2022.org
Herança açoriana bordada
Ela já bordou a Índia e a Amazônia, depois de fotografá-las, e agora, em sua terceira exposição, é a herança açoriana do RS e de SC, além do próprio Arquipélago dos Açores, em Portugal, que emerge da arte criada pela psicóloga, historiadora, fotógrafa e viajante Mylene Rizzo. A mostra Herança Açoriana: Trajetória em Fios, que comemora os 270 anos da chegada dos açorianos ao sul do país, será inaugurada nesta semana na Casa de Cultura Mario Quintana e apresenta 20 trabalhos — fotografias ampliadas sobre tela e bordadas por Mylene.
— Na releitura de algumas paisagens bordei minha versão de rendas, tapetes de flores e serragem, azulejos e o caráter resistente deste povo — descreve Mylene, que se descobriu bordadeira durante o confinamento gerado pela pandemia.
A exposição tem abertura para convidados na quinta-feira, `s 19h, e ficará aberta à visitação de 12/8 a 11/9, das 10h às 18h. A Fotogaleria Virgílio Calegari fica no 7º andar da Casa de Cultura (Rua dos Andradas, 736, na Capital).