Elas foram sendo plantadas aos poucos, e o azeite extraído dessas pequenas frutas presentes na história há mais de 6 mil anos conquista cada vez mais terreno no Estado. É que os produtores de oliveiras associaram o turismo às suas plantações e criaram estruturas para acolher visitantes e proporcionar experiências sensoriais antes restritas aos vizinhos do Prata ou a países do Mediterrâneo.
Há, no Brasil, 300 olivicultores e, embora o RS seja responsável por 70% da produção nacional, 60% das marcas são de outros Estados. Os produtores gaúchos querem virar esse jogo. Iniciada com 80 hectares em 2005, agora a área plantada soma 10 mil hectares. A ideia é aumentar o número de pequenas propriedades.
Em 4 de março, na abertura oficial da safra, um selo de qualidade, já publicado no Diário Oficial, será apresentado e, para obtê-lo, os olivicultores terão de seguir padrões rigorosos. Será mais um passo para atrair os consumidores/turistas a locais como os três descritos a seguir, que oferecem infraestrutura completa.
O olivoturismo envolve pelo menos 16 empreendimentos (veja a lista mais abaixo), impulsionado pela lei estadual de 2019 que criou a Rota das Oliveiras. Eles promovem degustações, oferecem piqueniques e almoços.
– É o momento certo para o olivoturismo, em ambientes preparados para a segurança sanitária – observa o presidente do Instituto Brasileiro de Olivicultura (Ibraoliva), Renato Bernardo Fernandes.
Estância das Oliveiras (Viamão)
A 28 quilômetros de Porto Alegre, o olival tem pouco mais de uma década e passou a receber turistas em dezembro de 2020. Sediar a abertura oficial da 10ª colheita, em 4 de março, portanto, é motivo de orgulho para a família Goelzer, habituada ao turismo na Quinta da Estância desde 1992.
Mas a colheita por aqui começa no próximo dia 12, com a azeitona do tipo Arbequina e intensa programação. Os finais de semana até março serão dedicados à participação dos visitantes – com a pandemia, a ocupação é de 50% e, para fazer reservas, é preciso preencher um cadastro gratuito no site.
As 5,2 mil oliveiras esparramam-se em 26 hectares da área total de 125. Neste ano, a produção não deve superar a de 2021, mas a perspectiva é de que seja de “altíssima qualidade”, afirma Rafael Sittoni Goelzer, diretor de Relacionamento com o Mercado. Com o consumo per capita dos brasileiros em 350ml/ano contra os 15 litros dos gregos, ele afirma haver muito espaço a conquistar:
— Nosso foco, ao receber o visitante, é catequizar o consumidor. Os olivicultores gaúchos são apaixonados. Produzem o que de melhor conseguem tirar da terra. Na dúvida, opte pelo azeite gaúcho.
Na visita, passa-se pelo olival, pelo lagar (onde é produzido o azeite) e faz-se a degustação. Há piquenique ou almoço.
– As pessoas querem ficar ao ar livre e, com apenas 28 quilômetros, fazem a transição da cidade para um ambiente rural autêntico – diz Rafael.
Para o casarão dos anos 1970 que se sobressai da paisagem, com arquitetura aos moldes das estâncias uruguaias, o projeto é instalar uma pousada em 2023. Ao lado, estão o lagar e a loja.
Informações: (51) 99813-0919 e @estanciadasoliveiras
Parque Olivas de Gramado
Não é só a proximidade o que atrai turistas ao Olivas de Gramado, aberto em dezembro de 2018 a 14 quilômetros da cidade. São as 12,3 mil oliveiras de seis espécies plantadas em 24 hectares, a vista dos cânions, a fazendinha, a trattoria, a boutique do azeite, a degustação... É, como diz o nome, um parque, diversão para todos os sentidos. Uma capela recém concluída receberá casamentos – para este ano, mais de 30 cerimônias já estão agendadas e, no futuro, um centro de eventos para 450 pessoas deve atender a esse tipo de demanda.
Foi a partir de muita pesquisa que Pedro Bertolucci e seus filhos André, Daniel e Paula investiram no terreno onde antes havia uma floresta de pinus.
— Percebíamos a necessidade de Gramado ter mais opções outdoor, já que a natureza, a grande motivadora do turismo local, acabou se perdendo. Vimos que o olivoturismo, pouco explorado, casava com essa intenção, e agregamos história e cultura — explica o azeitólogo André Bertolucci, um dos sócios.
Mesmo na pandemia, o Olivas conseguiu manter os 55 colaboradores e incrementar o parque: surgiram a cesta de piquenique e a degustação sensorial, com até sete tipos de azeites, criou-se o Sunset – saudação ao pôr do sol com músicos locais – e as trilhas ecológicas. A gastronomia adota o conceito do “quilômetro zero”, servindo o que é da região. Em março, virá novo cardápio, harmonizado com azeites e vinhos, da entrada à sobremesa.
O Olivas colheu sua primeira safra em 2021 e envasou 2,8 mil garrafas. Para abril, a ideia é que os turistas participem da colheita, a depender da situação da pandemia. Mas esse é um lugar para se visitar o ano inteiro.
Informações: site olivasdegramado.com.br
Pousada Olival Vila do Segredo (Caçapava do Sul)
A inauguração ocorreu em junho de 2020. Em janeiro de 2021, veio a abertura oficial da pousada, junto ao olival de Caçapava do Sul, berço da olivicultura no RS. Investimento do empresário Renato Bernardo Fernandes, 53 anos, presidente do Ibraoliva, e de sua esposa, Cinara de Lacerda Fernandes, a casa em estilo colonial português tem quatro suítes, e há também uma casa contêiner junto ao olival com 3,5 mil árvores cultivadas em 12 hectares – no ano passado, a colheita rendeu quatro toneladas de azeitona e 400 litros de azeite.
Com a capacidade limitada a 16 hóspedes, muitos dos visitantes são famílias ou grupos de amigos como um que chegou recentemente para fazer uma trilha pela Pedra do Segredo, um dos atrativos naturais de Caçapava. A ideia não é ampliar esse número. Fernandes observa que os turistas que os procuram querem familiaridade, querem participar do cotidiano, conhecer a história, conversar com quem trabalha e vive ali.
Quem busca a Vila do Segredo, a 270 quilômetros da Capital, são pessoas que, segundo Fernandes, procuram momentos de contemplação e sossego aliados à experiência com o azeite. Além da degustação e da gastronomia, a Vila do Segredo oferece passeios e cavalgadas.
Informações: (51) 99877-9865
Outros endereços
Confira mais 13 empreendimentos no RS que promovem visitas e degustações: Batalha (Piratini), Casa Albornoz (Santana do Livramento), Casa Gabriel Rodrigues (São Gabriel), Don José (Caçapava do Sul), Herança do Cerro (Encruzilhada do Sul), Fazenda Sabiá da Vigia (Encruzilhada do Sul), Olivae (Piratini), Olivas do Sul (Cachoeira do Sul), OlivoPampa (Santana do Livramento), Pecora Nera (Canguçu), Prosperato (Caçapava do Sul), Recanto Maestro (Restinga Seca) e Terrapampa (Bagé).