Você aí, que briga com a família e com os vizinhos para defender seu político ou partido de estimação, já prestou atenção em como estão sendo conduzidas as negociações para o comando da Câmara e do Senado? Pois deveria. Acredita que o PT do presidente Lula e o PL do presidente Jair Bolsonaro estão do mesmo lado, apoiando Hugo Motta na Câmara e Davi Alcolumbre no Senado?
Hugo Motta é do Republicanos da Paraíba. Mesmo partido do senador Hamilton Mourão, por exemplo. Trata-se de um partido repleto de afiliados ocupando cargos no governo Lula. No dia da eleição de Donald Trump, o futuro presidente da Câmara comemorou como se fosse um eleitor do Texas ou da Flórida. É um candidato de direita que provavelmente não terá adversários, porque conseguiu apoio de todas as forças que contam, incluindo o atual presidente, Arthur Lira (PP-AL), que achou melhor fechar com Motta do que perder com alguém da sua confiança.
Davi Alcolumbre é senador pelo Amapá, filiado ao União Brasil, partido que resultou da fusão do DEM com o PSL. E que integra o governo Lula com pencas de cargos em diferentes escalões. Ex-presidente da Comissão e Constituição e Justiça do Senado, Alcolumbre tem o apoio do PT e dos partidos de centro-direita, maioria na Casa. Até aqui, não apareceu desafiante disposto a encará-lo.
Como explicar essas alianças tão amplas? Seria ótimo se fossem os dois, Motta e Alcolumbre, políticos acima de qualquer suspeita, homens capazes de unir um país dividido, trabalhar pela redução dos gastos do Congresso e moralizar o sistema imoral de apropriação do orçamento via emendas parlamentares. Não são. Por que então tendem a ser candidatos de consenso? "Interésses", diria o velho Leonel Brizola, colocando acento agudo numa paroxítona em que o “e” se pronuncia fechado.
O governo sabe que Hugo Motta não é flor do seu orquidário, mas aprendeu com a eleição de Eduardo Cunha que não pode brigar com o centrão. Dilma desafiou Cunha, o PT resolveu enfrentar a criatura nefasta que todos sabiam que era e deu no que deu. Vitorioso, Cunha achou que Dilma comeria na mão dele. Como ela não topou, ele aceitou um dos pedidos de impeachment que tinha sobre a mesa e ela foi tirada do cargo em um acordo que envolveu do vice-presidente Michel Temer às cabeças coroadas do Centrão, passando por empresários descontentes com a condução da economia e temerosos de um colapso nas contas públicas.
O jogo que se joga em Brasília é pesado. Para costurar uma candidatura sem tropeços, Alcolumbre e Motta concordam em atender às pequenas e grandes demandas de cada partido — da divisão dos cargos nas comissões à garantia de que ninguém será prejudicado no que hoje é mais sagrado: as emendas que garantem a permanência no poder porque os eleitores ainda acham que o dinheiro da retroescavadeira "é do deputado" ou que o hospital "só saiu porque o senador bancou". E ninguém esclarece que é dinheiro do seu, do meu, do nosso imposto.