O encerramento das eleições municipais deflagrou outra corrida sucessória, desta vez sem o antagonismo que marcou a disputa por prefeituras Brasil afora. Na corrida às presidências da Câmara e do Senado, o favoritismo do deputado Hugo Motta (REP-PB) e do senador Davi Alcolumbre (UB-AP) uniu até mesmo PT e PL, maiores adversários políticos do cenário nacional.
A eleição só ocorre em fevereiro, mas as articulações partidárias se intensificaram nos últimos dias. A movimentação é maior na Câmara, sobretudo após o atual presidente, Arthur Lira (PP-AL), anunciar seu apoio a Motta. Até então, Lira vinha fazendo acenos também a Elmar Nascimento (UB-BA).
Disposto a consolidar seu poder no plenário e a influência nos rumos da Câmara após o fim de sua gestão, Lira sempre salientou que tinha preferência por um sucessor que unisse as maiores e mais antagônicas bancadas, PT e PL.
Nascimento tinha uma relação áspera com o governo e Antonio Brito (PSD-BA), que corria por fora, não nutria simpatia nos bolsonaristas. Na reta final, pesou a favor de Motta sua proximidade com o Planalto e a facilidade de atrair o PL.
Tão logo Lira tornou público sua preferência, outras grandes bancadas além de PT e PL se aproximaram de Motta, como PP, MDB e o União Brasil de Nascimento. Juntos, os seis partidos somam 369 deputados, contingente capaz de garantir vitória em primeiro turno.
A adesão passa agora por negociações. O PT tentou garantir a relatoria do Orçamento da União para 2026, mas já foi avisado que o posto está reservado ao MDB ou ao União Brasil. Aos petistas foi oferecida a próxima vaga no Tribunal de Contas da União (TCU), disponível apenas em fevereiro de 2026 com a aposentadoria do ministro Aroldo Cedraz.
O PL tem interesse em manter a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), principal instância da Casa antes do plenário, e cobra a votação do projeto de lei que anistia os envolvidos nos atentados de 8 de janeiro de 2023. A CCJ, porém, também está na mira do MDB e do União Brasil, que desembarcou da candidatura de Nascimento antes mesmo de uma desistência oficial do deputado.
Temendo ficar isolado, Nascimento já vinha se aproximando do PT nos últimos meses. Auxiliou o partido nas eleições municipais na Bahia e parou de criticar o governo. Ante a derrota iminente e se vendo sem chance de ficar com a CCJ, postula um cargo na reforma ministerial que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva prepara para 2025.
Projetada para redesenhar a Esplanada sob o contorno do resultado das urnas, a reforma deve ampliar o espaço dos partidos de centro. Todavia, perdeu terreno um movimento concebido no primeiro semestre.
Na ocasião, o Planalto estudava dar um ministério de grande porte para Lira em 2025. Era uma operação para atrair às trincheiras governistas o político mais poderoso de Brasília depois de Lula, e a cujos pedidos o presidente com frequência se via obrigado a acatar.
O cenário atual já não mostra tanta dependência assim de Lira. Os equívocos do deputado ao conduzir a própria sucessão, primeiro estimulando duas candidaturas dentro do mesmo campo político e depois adiando sua definição de apoio, anteriormente prevista para agosto, acabaram empoderando o governo.
Com 130 votos fiéis em sua base de sustentação, o Planalto não tem força para eleger um presidente da Câmara, mas se tornou o fiel da balança: para o lado em que pender, elege o vencedor.
Nessa composição, Motta, aos 35 anos, caminha para se tornar o mais jovem presidente da história da Câmara. No quarto mandato, o deputado é considerado um conciliador de trânsito fácil da esquerda à direita, bem como de interlocução frequente com setores econômicos robustos tais quais o agronegócio, a Faria Lima e a construção civil.
Alcolumbre é favorito no Senado
No Senado, a movimentação dos últimos dias apenas consolidou o favoritismo de Alcolumbre. Presidente da Casa de 2019 a 2021, Alcolumbre vem montando sua candidatura desde o início do ano e nunca teve um adversário ameaçador.
Se na disputa de 2023 Rogério Marinho (PL) obteve 32 votos, unindo a direita bolsonarista contra Rodrigo Pacheco (PSD-MG), agora o partido está disposto a apoiar Alcolumbre. Há quem cite eventuais candidaturas do próprio Marinho e de Tereza Cristina (PP-MS), mas os partidos de ambos temem marchar para uma derrota inevitável e ainda ficarem de fora da Mesa Diretora.
Por enquanto, há disposição somente no PSD, com postulações de Eliziane Gama (MA) e Otto Alencar (BA). A legenda tem a maior bancada da Casa, com 15 assentos, mas deve anunciar apoio a Alcolumbre, até mesmo em retribuição aos votos na eleição de Pacheco.
Oficialmente, Alcolumbre já tem apoio de PL, PP, União Brasil, Republicanos, PSB e PDT, somando 39 votos, apenas dois a menos do necessário. Com a incorporação de PSD e PT, esse número sobe para 69, uma margem tranquila para assegurar uma vitória consagradora.