Quando a água começava a baixar e os moradores de Porto Alegre e da Região Metropolitana preparavam a limpeza das casas que restaram em pé, eis que a chuva veio de novo, forte e persistente, e alagou áreas que até então tinham sido preservadas. A limpeza do Mercado Público, que seria iniciada com a ajuda da empresa Stihl, teve de ser interrompida. Os bairros Humaitá, Vila Farrapos, Anchieta e Sarandi, que ainda estavam debaixo d'água, perderam de novo o horizonte da reconstrução.
O colapso se apresentou sob diferentes formas, mas o que mais chamou atenção foi a água brotando dos bueiros em diferentes regiões da cidade. O Guaíba está devolvendo às ruas o esgoto pluvial que deveria escoar pelos bueiros.
O que já estava ruim piorou com a orientação do prefeito Sebastião Melo para que as pessoas deixassem nas ruas os móveis, eletrodomésticos e objetos que a chuva tornou imprestáveis. Misturados ao lixo orgânico espalhado pelas ruas, esses detritos transformaram a cidade em um retrato do colapso.
Ainda era manhã desta quinta-feira (23) quando moradores do Menino Deus começaram a encaminhar mensagens para a Rádio Gaúcha informando que as ruas estavam alagando de novo. Ganzo, Barbedo, Marcílio Dias... Conforme o tempo passava, as mensagens se multiplicavam, ampliando o número de ruas alagadas. Depois das 11h, o caos se instalou em diferentes bairros, com avenidas como a Erico Verissimo se transformando em rios só transitáveis de barco ou de motos aquáticas.
A Zona Sul, que na enchente do início de maio tinha sido relativamente preservada, viu a água se infiltrar por ruas que ainda não conheciam o perigo. Diante desse quadro de filme catástrofe, as perguntas se enfileiram: qual o futuro de Porto Alegre? Vai alagar toda vez que chover? O sistema de drenagem colapsou? O que precisa ser feito?
O diretor-geral do Dmae, Maurício Loss, deu uma explicação plausível e assustadora: os condutos por onde passa o esgoto pluvial estão entupidos de lixo, areia e lodo. É um lodo pegajoso, que dificulta o escoamento da água. Os rios e arroios que recebem esse esgoto estão assoreados, como está o Guaíba. Ou seja: com areia, lodo e resíduos sólidos, a capacidade de escoamento diminui e a subida é mais rápida do que seria em condições normais.
Será preciso dragar todos os arroios, como foi feito com o Dilúvio, com a retirada de toneladas e toneladas de lixo, areia e lodo. Mas e o Guaíba? Como retirar do Guaíba o lixo que veio de diferentes regiões do Estado e ficou acumulado no fundo? É terra, areia, animais mortos, árvores, restos de casas. Quanto custará e quanto tempo será necessário para dotar Porto Alegre e as cidades da Região Metropolitana de um sistema eficiente de drenagem urbana?