Por mais que os hospitais tenham dado sinais de que não aceitariam a nova tabela do IPE Saúde e até recorrido à Justiça, o que ocorreu nesta última segunda-feira de abril é inaceitável. Pode-se chamar de boicote, de chantagem, de pressão e até de exercício do legítimo direito de espernear diante de uma mudança com a qual não concordam.
Da forma como foi feito, passa a mensagem de insensibilidade com quem está lá na ponta e que é a razão da existência do IPE Saúde: 1 milhão de segurados, em sua maioria pessoas de classe média ou baixa, que não tem como pagar um plano de saúde privado.
É preciso voltar ao começo para que o segurado entenda o que está em jogo. Por muitos anos, o IPE concordou com um sistema que não é usado por planos de saúde como a Unimed, para ficar com o mais conhecido. Em vez de atualizar as diárias e o valor dos procedimentos, aceitou que os hospitais compensassem a defasagem superfaturando o preço dos medicamentos, dietas e insumos. Pode parecer irrelevante quando se pensa em um analgésico ou antibiótico, mas se pensarmos em quimioterápicos, stents ou próteses, a coisa muda de figura.
Porque não é lógico nem transparente esse sistema, o Ministério Público e a Contadoria e Auditoria-Geral do Estado (Cage) exigiram que o IPE Saúde reformulasse o sistema de remuneração dos hospitais. O IPE reajustou as diárias e os procedimentos, mas adotou uma tabela de medicamentos com a qual os hospitais não concordam.
A medida anunciada por 18 instituições depois que a Justiça derrubou a liminar que impedia a entrada em vigor das novas tabelas semeou pânico entre os segurados, principalmente entre os que estão em tratamento. Porque os hospitais estão suspendendo o atendimento sem dar prazo para a instituição fazer novos contratos.
É sabido que alguns hospitais dependem do IPE para sobreviver, seja porque o SUS paga ainda menos, seja porque não têm pacientes de planos privados em quantidade suficiente, seja porque também esses não pagam o que se cobra de um paciente com dinheiro para custear um tratamento.
Diante do impasse, o governo do Estado, por meio da Procuradoria-Geral do Estado, precisa fazer alguma coisa com urgência. Os hospitais alegam que o IPE Saúde "não conversa", mas os registros da agenda do presidente Paulo Afonso Oppermann provam que não é bem assim.
O segurado é o marisco entre o mar e o rochedo. Quem vai defender o seu interesse?
Aliás
No dia em que o governo deveria comemorar o anúncio do maior investimento da história do Rio Grande do Sul, o da CMPC, em Barra do Ribeiro, dois assuntos domésticos (e indigestos) ofuscaram a boa notícia de US$ 5 bilhões: a crise no IPE Saúde e o recuo no projeto do ICMS por falta de apoio na Assembleia.