A escassez de informações sobre o vencedor da concorrência para a concessão do Cais Mauá faz o que poderia ser um detalhe ganhar relevância. O currículo do arquiteto Sérgio Stein — o rosto conhecido do consórcio vencedor — é um exemplo. Foi "enfeitado" com formações que ele não tem. Sobrevalorizar cursinhos de rápida duração ou promovidos por instituições que se dizem associadas a universidades famosas é um pecado comum entre políticos, principalmente nas campanhas eleitorais. Harvard é a preferida.
No caso de Sérgio Stein, a informação trazida à luz pelo repórter Carlos Rollsing deixa de ser um detalhe porque há outros elementos estranhos na empresa vencedora da licitação do Cais Mauá, como o fato de a Spar ser uma empresa com capital social de apenas R$ 10 mil e que funcionava num apartamento do Jardim Botânico até as vésperas do leilão. Com exceção da paulista Credlar, nada se sabe sobre os sócios que farão o negócio parar em pé.
A licitação ainda não foi homologada. Está na fase de análise de documentos pela Bolsa de Valores B3 e pela Comissão de Licitação. Depois de homologado o resultado do certame, que teve apenas um concorrente, a empresa terá 60 dias para apresentar os sócios e a capacitação técnica e, então, assinar o contrato com o governo.
O secretário de Parcerias, Pedro Capeluppi, diz que está tranquilo e não vê problemas no currículo do arquiteto, muito menos no silêncio em torno dos planos para a revitalização:
— Eles cumpriram tudo o que estava no edital. Caso não consigam atender as exigências previstas para esta segunda fase, perderão os R$ 3,5 milhões dados como garantia. Esse valor foi estabelecido justamente para evitar a participação de aventureiros no certame.
O secretário diz que o fato de Stein não falar sobre os sócios é sinal de responsabilidade:
— Nesta fase, ele não tem que falar mesmo. O momento é de apresentar os documentos e provar a capacidade técnica para executar as obras.
No Piratini, circula a suspeita de que as tentativas de desqualificar o vencedor do leilão partem de empresas locais, que não participaram da licitação esperando que desse deserta e que o governo fizesse outro edital, menos rígido, permitindo fatiar as obras ou antecipar a entrega dos terrenos na área do antigo porto.