O jornalista Bruno Pancot colabora com a colunista Rosane de Oliveira, titular deste espaço
Passados pouco mais de três meses desde o lançamento, o programa Virada da Paz em Rio Grande, no Sul do Estado, começa a colher os primeiros resultados. No primeiro semestre de 2023, o número de homicídios dolosos no município baixou de 58 para 23 em comparação ao mesmo período do ano passado.
Em 2022, Rio Grande enfrentou uma onda de violência relacionada à guerra entre facções, que elevou o número de assassinatos na cidade. Devido a esse fenômeno, o município apareceu na 24ª posição entre as cidades violentas do Brasil, conforme o anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Sim, ainda é cedo para relacionar diretamente a redução de homicídios em Rio Grande ao Virada da Paz, lançado em maio. Mas uma das primeiras iniciativas do programa é justamente a integração das forças de segurança para o enfrentamento à criminalidade, esforço que já vem sendo colocado em prática nos últimos meses.
— Esse é um trabalho conjunto. O que tivemos no ano passado foi uma guerra de facção, uma briga territorial. Essa redução dos números simboliza a atuação da segurança pública. Mas só policiamento ostensivo não vai resolver. A prefeitura está apostando muito na prevenção — contextualiza o prefeito Fábio Branco.
Por prevenção, entende-se especialmente tirar os jovens da rota do tráfico de drogas. Uma das frentes do Virada da Paz é o Cada Jovem Conta. A iniciativa prevê uma série de ações que serão desenvolvidas de forma conjunta pelas secretarias de Educação, Segurança e Assistência. Também são previstas ações de educação socioemocional nas escolas.
— O objetivo é identificar cada jovem em situação de risco e implementar estratégias para ele reduzir seus riscos, em cada microterritório da cidade — diz o diretor-executivo do Instituto Cidade Segura, Alberto Kopittke, que presta consultoria ao município.
A delegada responsável pela 7ª Delegacia Regional da Polícia Civil, Lígia Furlanetto, ressalta que o envolvimento de jovens em homicídios e no tráfico é uma das principais preocupações das autoridades, mas o problema não se limita à segurança.
— Os adolescentes com envolvimento em facções criminais possuem uma noção distorcida de valores e acabam tendo como referência de sucesso os traficantes de drogas de suas comunidades. Além disso, tem no consumo de bens a ideia de sucesso e inserção social. Seguem uma trajetória fadada à ruína. Envolvem-se em homicídios motivados por disputas de facções pelo falso ideal e a pretexto de manter a honra e conquistar o prestígio entre os pares — analisa a delegada.
E emenda:
— É preciso haver uma drástica mudança de perspectivas desses jovens e adolescentes inseridos em contexto de violência. Por esta razão, não é mais adequado entender a Segurança Pública como um problema isolado, senão como consequência de diversos fatores que precisam ser enfrentados conjuntamente e de forma transversal.
Não é preciso ir longe para encontrar boas referências. Pelotas, localizada ao lado de Rio Grande, alcançou o status de quarta cidade mais segura do Brasil entre os municípios de 200 mil a 500 mil habitantes. O resultado é comemorado pelas autoridades pelotenses, que atribuem a redução da violência ao Pacto pela Paz, lançado em 2017.