O placar de quatro a dois é indicativo da posição final dos conselheiros do Tribunal de Contas do Estado em relação à privatização da Corsan. Era certo que três conselheiros referendariam a decisão do presidente da Corte, Alexandre Postal, que derrubou duas medidas cautelares da conselheira Ana Cristina Moraes, relatora do processo, e liberou a assinatura do contrato de venda da companhia.
Os três votos dados como certos desde o início são de políticos, todos ex-deputados como Postal, que não votou porque estava em julgamento uma decisão sua. São eles: Iradir Pietroski, Marco Peixoto e Edson Brum. A dúvida recaía sobre Renato Azeredo, que é técnico e foi o autor do pedido de vista que, na terça-feira, suspendeu o julgamento na 1ª Câmara do TCE. Azeredo surpreendeu quem não conhecia sua opinião e votou com os políticos, legitimando as duas decisões de Postal.
O voto de Azeredo sinalizou como ele deve se posicionar na apreciação do relatório da conselheira Ana Moraes, quando o assunto voltar à pauta. Como nessa câmara são apenas três conselheiros, seu voto não será decisivo: o placar está dois a zero pela anulação do leilão. Antes da suspensão da sessão, o conselheiro Estilac Xavier disse que acompanhava a posição da relatora, por entender que a Corsan foi vendida por um preço menor do que valia.
Como a Procuradoria-Geral do Estado vai recorrer ao pleno, pode-se ter certeza de que o resultado será favorável ao governo e à Aegea, que comprou e pagou R$ 4,1 bilhões pela Corsan e no dia seguinte assumiu a gestão. O placar provável é de cinco a dois a favor da privatização.
A sessão do pleno foi uma das mais tensas porque os ânimos estão acirrados. Pela manhã, enquanto vistoriava as obras de recuperação do Instituto de Educação, o governador Eduardo Leite foi questionado sobre o placar do dia anterior na sessão do TCE e subiu o tom em relação às críticas que o governo vem recebendo. Disse que o procurador-geral do Ministério Público de Contas, Geraldo da Camino, e os conselheiros Ana Moraes e Estilac Xavier provavelmente não moram em uma rua com esgoto a céu aberto e, por isso, ficam procurando "pelo em ovo" em um processo feito dentro das regras.
Estilac deu a resposta em plena sessão, que por alguns momentos ficou parecendo um debate na Assembleia Legislativa, apesar de a sessão ser virtual. Disse que tem mais chão "caminhando sobre os problemas do Estado do que o governador".
De todos, Postal era o mais exaltado, até porque estava em discussão a correção de sua conduta ao derrubar as duas cautelares de Ana Moraes, usando uma prerrogativa excepcional, prevista no regimento do TCE para casos excepcionais e de urgência. A pressa se justificava, segundo o governo do Estado, porque o leilão valia por 180 dias e, como o prazo estava se esgotando, se não assinasse o contrato, a Aegea teria o direito de desistir do negócio.
ALIÁS
Para afastar a desconfiança que paira sobre a sua capacidade de prestar um serviço melhor do que a Corsan estatal, a Aegea precisa aprender com os erros da Equatorial, que comprou a CEEE e não está entregando um serviço satisfatório.