Para quem conhece minimamente a política caxiense, eram favas contadas que o vereador Sandro Fantinel escaparia da cassação, apesar do desserviço prestado à imagem da serra gaúcha com suas declarações ofensivas aos baianos, em 28 de fevereiro. O vídeo deplorável, que correu o país no momento em que o Rio Grande do Sul estava no olho do furacão pela descoberta de um caso lastimável de trabalho análogo à escravidão na colheita da uva em Bento Gonçalves, não foi suficiente para excluir Fantinel da política.
Disse o valentão, que depois choramingou se dizendo arrependido:
— Agricultores, produtores, empresas agrícolas que estão neste momento me acompanhando, eu vou dar um conselho para vocês: não contratem mais aquela gente lá de cima. Conversem comigo, vamos criar uma linha e vamos contratar os argentinos, porque todos os agricultores que têm argentinos trabalhando hoje só batem palmas. Os argentinos são limpos, trabalhadores, corretos, cumprem o horário, mantêm a casa limpa e, no dia de ir embora, ainda agradecem o patrão pelo serviço prestado e pelo dinheiro recebido.
A coluna registrou, à época dos fatos, que não seria surpresa se o vereador preconceituoso mantivesse o mandato, nem se aumentasse a votação em 2024. Porque é evidente que ele representa o pensamento dos seus eleitores e, agora se sabe, também dos nove colegas que votaram contra a cassação. Hoje ele está sem partido, mas não será surpresa se houver leilão pelo seu passe até março de 2024.
É preciso que se dê nome aos bois, para não cometer injustiça com os 13 que votaram pela cassação. Quem salvou o mandato de Fantinel foram os vereadores Adriano Bressan (PTB), Alexandre Bortoluz (PP), Clóvis de Oliveira "Xuxa" (PTB), Elisandro Fiuza (Republicanos), Gladis Frizzo (MDB), Maurício Scalco (Novo), Olmir Cadore (PSDB), Ricardo Daneluz (sem partido) e Velocino Uez (PTB).
Não venham os vereadores cúmplices de Fantinel dizer que se trata de liberdade de expressão e que uma pessoa eleita pelo povo tudo pode. Se o que ele fez não se enquadra no conceito de "quebra do decoro o parlamentar", o que se enquadraria?
O vereador não fez os comentário xenófobos em um churrasco na garagem de casa nem no boteco da esquina. Foi um pronunciamento no plenário da Câmara, em tom exaltado como foram outras manifestações histriônicas. Essa em questão nada tem de histriônica: não há graça no discurso de um sujeito grosseiro, preconceituoso e tolerante com a exploração de trabalhadores.
Graças à conivência dos colegas, inclusive de um secretário municipal (Ricardo Daneluz, que se licenciou para votar e agora retorna à prefeitura), Fantinel escapou também de outro processo por quebra de decoro. O parlapatão disse que "um ministro do Supremo Tribunal Federal participou de uma orgia com crianças fora do Brasil". Sem provas, naturalmente, e sem qualquer elemento para sustentar a patacoada.