Para os que esperavam das Forças Armadas um relatório robusto com indícios consistentes da de fraude nas eleições, não é exagero dizer que a montanha pariu um rato. Por isso, foi divulgado sem alarde na quarta-feira (9) e interpretado como uma confissão de que nada de anormal se encontrou. Só que, um dia depois, o Ministério da Defesa resolveu alimentar o rato com uma nota ambígua, em que não confirma a fraude, porque não conseguiu prová-la, mas não a descarta, mantendo acesa a chama da desconfiança.
Ratos não são bichinhos de estimação nem doces personagens de desenho animado. Ratos são roedores. Cortam a fiação elétrica, roem o queijo, são vetores de pestes. É preciso ter cuidado, sobretudo quando se multiplicam alimentados pelos solapadores da democracia.
As Forças Armadas se meteram numa enrascada. Se colocassem em dúvida o resultado da eleição presidencial, teriam de levantar suspeitas sobre o sistema que elegeu o ex-ministro Tarcísio Gomes de Freitas governador de São Paulo, o vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos) senador pelo Rio Grande do Sul e os ex-ministros Tereza Cristina (PP-MS), Damares Alves (Republicanos-DF) e Rogério Marinho (PL-RN) senadores da República. Ao insinuar e pedir que prossigam as investigações, o Ministério da Defesa alimenta a ratazana sem precisar colocar a mão na cumbuca.
Se o dito relatório tivesse alguma coisa verdadeiramente consistente, o presidente Jair Bolsonaro (PL) não teria ido ao encontro dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) reconhecer que "acabou". A demora em anunciar o resultado da "investigação" alimentou a esperança dos bolsonaristas que querem virar a mesa baseados em uma fake news com sotaque espanhol, divulgada na Argentina, a pretexto de escapar da caneta do ministro Alexandre de Moraes.
O mais incrível é que "formadores de opinião" tenham acreditado na história das urnas auditáveis e não auditáveis, ignorando o funcionamento do sistema eleitoral. Aliás, é curioso que as mesmas pessoas que questionavam a urna eletrônica por não ser auditável agora se apeguem ao marco temporal de 2020 para dizer que um lote o é e outro não.
Como Bolsonaro planeja ser candidato a presidente em 2026, seus seguidores vão continuar insistindo no voto impresso e é possível que aprovem, dada a composição do novo Congresso. Até lá, o rato parido pelas Forças Armadas pode encontrar sua alma gêmea e se multiplicar na tarefa de corroer as bases da democracia.