O 22 de dezembro de 2019, um domingo, foi marcado por um fato histórico da política de Caxias do Sul. Às 12h50min daquele dia era finalizado o primeiro processo de impedimento de um prefeito conduzido pela Câmara de Vereadores da cidade, e por maioria de votos o mandato de Daniel Guerra era cassado pelos vereadores. Foi uma longa sessão, que durou 51 horas e 56 minutos, tendo se iniciado às 8h55min da sexta-feira, 20 de dezembro.
Após a consumação do processo, Guerra se manifestou oficialmente por meio de redes sociais, dizendo que o ato era um ataque à democracia, e não concedeu entrevistas. As raras aparições e pronunciamentos públicos foram quase um ano depois, durante a eleição para prefeito, onde o grupo político dele foi representado pela candidatura de Júlio Freitas e Chico Guerra, que acabou derrotada. Depois disso, Daniel Guerra recolheu-se ao silêncio.
Cinco anos depois do impeachment, muitos têm curiosidade sobre que faz e por onde anda o político, que após se eleger de forma consagradora em 2016, queimou o capital político em um governo marcado por polêmicas e brigas. A coluna foi atrás de contatos do ex-prefeito, e conseguiu algumas informações sobre o paradeiro de Guerra, embora ele mantenha uma atuação pública extremamente discreta nos últimos tempos.
A primeira questão é que ele segue em Caxias do Sul e mora na mesma residência, no bairro Colina Sorriso. A mulher dele, Andrea Marchetto Guerra, também continua atuando na cidade, pois é servidora pública da Secretaria Municipal da Saúde. O ex-prefeito atualmente trabalha como consultor, função exercida a partir da experiência e de contatos de antes de entrar na política, quando trabalhava no sistema financeiro.
Por conta desse trabalho, de acordo com o irmão e ex-vereador Chico Guerra, Daniel passa parte do mês no exterior. Mesmo assim, sempre que está em Caxias, mantém velhos hábitos na rotina, como ir à academia com frequência, especialmente em uma localizada na Avenida Itália, em frente ao Parque Cinquentenário. A ida à missa na Igreja de São Pelegrino também é uma atividade cumprida sempre que possível.
Por meio do ex-chefe de Gabinete, Júlio Freitas, a coluna solicitou uma entrevista com o ex-prefeito. De acordo com o interlocutor, Daniel Guerra agradeceu o contato, mas não quis falar, dizendo que ainda não pretende fazer manifestações públicas.
A cassação do ex-prefeito se deu a partir de uma denúncia baseada em quatro tópicos, formulada e assinada pelo ex-vice-prefeito Ricardo Fabris de Abreu. No relatório feito pela então vereadora Paula Ioris (PSDB) para a Comissão Processante, três itens (proibição da bênção pública de Natal dos frades capuchinhos na Praça Dante Alighieri; decisão de fechar o Pronto-Atendimento 24 Horas para reforma, ignorando o Conselho Municipal de Saúde; proibição da realização da Parada Livre na Praça Dante Alighieri) foram considerados procedentes e acabaram caracterizados como infrações político-administrativas.
O relatório seguiu para o plenário e foi aprovado, com 18 votos a favor da cassação e quatro contra. Flavio Cassina, então presidente do Legislativo, assumiu o comando do Executivo de forma interina, já que o vice de Guerra, Ricardo Fabris, havia renunciado após se desentender com o prefeito. Alguns dias depois, Cassina foi eleito para um mandato-tampão até 31 de dezembro de 2020.
Os direitos políticos de Daniel Guerra foram cassados pelo período de oito anos, contando a partir da data do impeachment. Com isso, ele só pode se candidatar a algum cargo público a partir das eleições de 2028. Segundo interlocutores, ele fala pouco sobre política, e nunca explicitou o que pretende fazer a partir do momento em que estiver novamente apto a se candidatar.