Eram necessários 308 votos para que a proposta de emenda à Constituição que institui o voto impresso seguisse adiante, mas faltaram 79. Mesmo tendo conseguido mais votos do que os contrários, o placar de 229 a 218 foi uma derrota pessoal do presidente Jair Bolsonaro, que passou os últimos meses dedicado a fazer campanha contra o sistema eletrônico de votação e os últimos dias focar em atacar o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
A votação escancarou o desgaste de Bolsonaro, que esticou a corda, ameaçou não aceitar o resultado da eleição, se não houver voto impresso, atacou ministros do Supremo Tribunal Federal e espalhou notícias falsas. Nos discurso, ficou evidente que a gota d’água foi o desfile de blindados e outros veículos da Marinha, na manhã da votação, interpretada por deputados de diferentes partidos como uma tentativa de intimidação dos parlamentares.
Líderes de partidos aliados, incluindo integrantes do centrão, orientaram seus deputados a votarem contra a proposta e selaram o destino do voto impresso. A oposição, sozinha, não teria votos para impedir a aprovação. Até o PP, partido de Lira, liberou a bancada porque não conseguiu chegar a um consenso. O DEM, partido do ministro Onyx Lorenzoni, foi mais longe: orientou pelo voto não, que significa contra o voto impresso.
Uma das posições mais surpreendentes foi a do PDT, adversário de Bolsonaro, mas crítico histórico do sistema eletrônico de votação. Os pedetistas decidiram votar contra com o argumento de que o partido não seria cúmplice de manobras de Bolsonaro para desviar o foco da crise enfrentada pelo país.
A PEC de autoria da deputada Bia Kicis (PSL-DF) deveria ter sido enterrada na semana passada, quando a comissão especial, em duas votações consecutivas, rejeitou o parecer do relator, deputado Filipe Barros. Diante do clamor dos bolsonaristas e da crise institucional que poderia se prolongar indefinidamente, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) decidiu levar a proposta ao plenário.
Ao perceber a derrota iminente, os governistas manobraram para adiar a votação. O líder do governo, Ricardo Barros (PP-PR), fez um pedido explícito para adiar a votação por cinco sessões, na esperança de mudar o placar. Lira abriu a discussão, mas foi alertado pelo deputado gaúcho Elvino Bohn Gass (PT) de que uma mudança no regimento, aprovada pela base governista, impede o adiamento quando a discussão ode uma proposta já foi encerrada. O presidente da Câmara reconheceu que errara e mandou a votação prosseguir.