É da natureza deste espaço não tratar de política, minha atividade principal no Jornalismo. Mas, a uma semana da eleição, é difícil falar de flores, por mais que meu desejo fosse contar que as papoulas começaram a florescer, as roseiras estão exuberantes e a primavera, em todos os tons de lilás, faz jus ao nome da estação. Não falarei de voto propriamente dito, mas de como é interessante ver as mudanças operadas pelo tempo no rosto, nos cabelos e nos discursos dos candidatos e candidatas.
Todos os que aparecem na propaganda de governador, presidente e senador eu conheço desde o início da carreira política, mesmo que alguns sejam mais velhos do que eu. Porque já era jornalista quando o bancário Olívio Dutra concorreu pela primeira vez. Acompanhei sua surpreendente vitória na eleição para prefeito de Porto Alegre, em 1988. Tinha os cabelos bastos como agora, só que negros como a asa da graúna e o mesmo jeito de falar que tem hoje. Ana Amélia Lemos era jornalista e só trocou o microfone pela política em 2010, quando éramos colegas no Gaúcha Atualidade, para concorrer ao Senado. O general Mourão eu conheci como comandante Militar do Sul e ali nasceu como político, embora só fosse disputar a vice-presidência da República em 2018. A Comandante Nádia era uma jovem brigadiana que trabalhava no Palácio Piratini em 1991, como assessora do então governador Alceu Collares e da primeira-dama Neuza Canabarro.
Vieira da Cunha, que concorre a governador pelo PDT, foi meu colega de aula na Famecos/PUCRS em 1978. Trocou o Jornalismo pelo Direito, passou no concurso para promotor e foi fazer política, sua grande paixão, sempre discípulo de Leonel Brizola. Conheci Edegar Pretto gurizinho, levado à Assembleia pela mão do pai, Adão Pretto, primeiro sem-terra eleito deputado. Acompanhei a primeira eleição de Onyx Lorenzoni, pelo PFL, uma dissidência do PP, que vinha da velha Arena. Era da mesma vertente de Luis Carlos Heinze, ex-prefeito de São Borja que passou direto para deputado federal. Quando Eduardo Leite nasceu, eu já era jornalista. Fui conhecê-lo vereador e, quando concorreu a prefeito de Pelotas, estava claro que sonhava mais alto. Tanto que chegou ao Piratini aos 33 anos.
Estive no comício das Diretas, em 1984. Conheci o sindicalista Lula no palanque, ao lado de Brizola, Ulysses Guimarães, Dante de Oliveira e todos os outros que discursaram naquela noite em frente à prefeitura. Cinco anos depois, Lula perderia a eleição para Fernando Collor no segundo turno. Acompanhei as fracassadas tentativas de Lula de ser presidente, suas duas vitórias, o que parecia ser a morte política, com a Lava-Jato, e o renascimento. Jair Bolsonaro conheci como deputado, em 28 anos de mandato, e vi chegar à Presidência da República numa eleição improvável. Ciro Gomes era um jovem magrinho e voluntarioso quando surgiu no cenário nacional como governador do Ceará.
Todos os homens citados nesta já longa crônica têm cabelos brancos ou estão calvos. Alguns rejuvenesceram ou atenuaram as marcas de expressão com as técnicas que a Ciência oferece – do implante de cabelo à toxina botulínica. As mulheres seguem sendo minoria na política e, neste ano, só uma concorre ao Piratini.
O que pouco mudou foram os discursos. Ainda se escutam na propaganda eleitoral frases dos anos 1980, quando o mundo vivia os tempos da Guerra Fria. Fala-se da necessidade de combater a fome, de simplificar os impostos, de investir em saúde e educação, de construir uma sociedade mais justa e mais humana.
Como disse Collor, na camiseta mais célebre, às vésperas do impeachment, “o tempo é senhor da razão”.