Se tem uma coisa que eu admirava na rainha Elizabeth II era a classe com que ela carregava aqueles vestidos e casacos coloridos mesmo depois de ter feito 80 anos. Não sei quando nem onde se convencionou que, depois dos 60 anos, quando passam a nos chamar de “idosas” (elderly ladies na Inglaterra) temos de nos contentar com vestidos pretos, para parecer magras, ou nos restringir aos 50 tons de cinza com no máximo algumas concessões para o azul-marinho, o verde-musgo ou o insosso bege.
A rainha nunca se curvou a essas convenções. Usou todas as cores da paleta nos seus 96 anos de vida - e isso que dos seus primeiros anos só conhecemos fotos em preto e branco. Nos últimos 20 anos, principalmente, usou e abusou dos vestidos e casacos coloridos, sempre combinando com o chapéu. Os mantôs coloridos da rainha são clássicos que qualquer mulher deveria usar sem medo, mas quem se arrisca?
As mulheres são vítimas da ditadura da moda. Escravizam-se por dar atenção às revistas que carimbam de certo e errado o que poderia ser apenas um reflexo do estado de espírito de quem veste. Incluo-me no restrito grupo de mulheres que detestam usar roupas pretas. Nunca fui a um casamento, formatura ou bodas de ouro de vestido preto. Das vezes em que usei um pretinho básico, quebrei a monotonia com um casaqueto cereja, turquesa, azul pancetti. Recuso-me a ser escrava dos estilistas e tenho saudade do Rui, que não discriminava as mulheres pela idade e estimulava suas clientes a usarem os tons da rainha da Inglaterra.
Está impresso na minha memória o código vigente na infância. Na minha aldeia, preto era cor do luto. As viúvas usavam preto dos pés à cabeça por um ano. Depois, aliviava-se o luto para alguma coisa em preto e branco. Xadrez, bolinhas, flores minúsculas. Vermelho, nunca mais. Nem as crianças podiam usar vermelho, porque era considerada uma cor alegre. Eu discordava dessa classificação porque preferia os tons de azul, mas convenção é convenção. Crianças não vestiam luto, mas tinham de usar cores frias.
Quando minha avó paterna morreu, eu tinha 12 anos e nosso uniforme na Escola Estadual João Ferrari era saia azul-marinho abaixo do joelho (que a gente enrolava na cintura para encurtar) e blusão vermelho. Meus pais pediram autorização especial e pelo resto daquele ano usei uma blusa verde-bandeira, porque a azul disponível na loja da cooperativa era muito cara.
Com Charles III no trono e William em primeiro na linha de sucessão, o Reino Unido será de tons pastéis. As mulheres da realeza que hoje estão vestidas de preto em sinal de luto voltarão à elegância do marfim e do off white (que, aos meus olhos, são a mesma coisa). Eu aqui, no mundo das pessoas comuns, seguirei usando todas as cores do arco-íris, porque nunca sonhei em preto e branco e não gosto de ditaduras de esquerda ou de direita. Nem da moda.