Pouca gente sabe, mas, antes de ser notícia pela doação milionária que viabilizou a construção de um novo hospital na “cidade da saúde”, como é chamado o Complexo Santa Casa, em Porto Alegre, Nora Teixeira já fazia caridade no anonimato. Na própria Santa Casa, ajudando o Hospital da Criança Santo Antônio, no Pão dos Pobres e em outras instituições. Foi numa visita à Santa Casa que ela pediu para conhecer a emergência SUS, lotada como sempre.
Casada com Alexandre Grendene, um dos empresários mais ricos do Estado, Norinha disse ao provedor Alfredo Guilherme Englert que gostaria de fazer uma doação para a construção de uma nova emergência. Ao ouvir que a Santa Casa já tinha projeto para um novo hospital, ela afirmou que falaria com ele para ver o que seria possível fazer. Voltaram e fizeram a primeira doação de R$ 40 milhões. Depois, mais R$ 20 milhões e outros R$ 20 milhões.
O fruto dessa doação já aparece na paisagem de Porto Alegre, como se vê na foto tirada com um drone dias atrás (imagem acima). A inauguração do hospital está prevista para 2023, mas o mais importante, a emergência SUS, agora com 2,6 mil metros quadrados (quatro vezes o espaço atual) deve ser inaugurada até o final deste ano.
Visitei o novo hospital na semana passada, em companhia da colega Andressa Xavier, e ficamos encantadas com o que está sendo feito na nossa Santa Casa graças à solidariedade de quem tem dinheiro e se dispõe a ajudar a instituição que mais atende pacientes do SUS no Rio Grande do Sul.
O que o SUS paga por exames, consultas e internações não cobre os custos. O que falta é bancado pelo atendimento de pacientes de convênios e particulares, numa política de sustentabilidade nascida no tempo em que Dom Vicente Scherer aceitou ser o provedor da falida Santa Casa para reerguê-la e evitar que naquele quadrilátero em que tantas vidas são salvas nascesse o primeiro shopping center de Porto Alegre. Uma das lições de Dom Vicente, seguida à risca até hoje, é que a Santa Casa deveria ser sustentável. As doações iriam integralmente para investimentos. Em obras, equipamentos, reformas.
Foi assim que recentemente se reformou o Hospital Santa Clara, o mais antigo do complexo. Todos os anos, um doador anônimo depositava um valor considerável na conta da instituição e informava que não queria ser identificado. Um dia apareceu na provedoria um senhor já em idade avançada dizendo que fazia uma doação anual, mas estava ali para se apresentar e fazer uma proposta. Chamava-se Caio Poester, não tinha herdeiros e queria deixar seus bens para a Santa Casa administrar. Na hora fez uma doação de R$ 12 milhões. A Santa Casa não cuidou apenas dos bens: cuidou desse homem até a sua morte, aos 101 anos. Com a herança, reformou o Santa Clara.
Hoje Caio Poester dá nome a vários espaços dos hospitais beneficiados com seu dinheiro. É a forma que a Santa Casa encontra para agradecer aos benfeitores desde Hugo Gerdau (nome do auditório) a Renato Bastos Ribeiro, que lá ficou internado por 23 meses, até morrer. Os filhos fizeram uma doação milionária e o nome do empresário já pode ser lido num dos andares do Nora Teixeira. A emergência, por justiça, vai se chamar Alexandre Grendene.
O novo hospital será exclusivo para pacientes de convênio e particulares, para subsidiar o que o SUS não cobre nas outras unidades. Se um dia eu ou você utilizarmos os serviços da Santa Casa, saberemos que estamos ajudando a pagar a UTI neonatal dos bebezinhos nascidos com menos de 1kg, que vimos nas incubadoras, recebendo tratamento de Primeiro Mundo. Escolher a Santa Casa tendo convênio ou para um atendimento particular é forma que quem não é milionário solidário como os Grendene, os Ribeiro ou os Ling pode contribuir.