Hoje é um dia difícil para nós, órfãos de pai. Ao mesmo tempo em que celebro a alegria de ter convivido com um pai presente e generoso por mais de meio século, dói não ter como abraçá-lo neste dia nem como dizer “obrigada por tudo”. Conforta-me a ideia de que pais e mães são imortais, porque deixam impressas em nós suas lições de vida. E que se não é possível tê-los para sempre como presença física, pelo menos temos as lembranças a acariciar a alma nas datas que deveriam ser festivas, em cada aniversário sem a presença e sem um telefonema.
Não há como falar da figura do pai como se todos fossem iguais ao meu, um homem que enxergava além do horizonte da sua aldeia e ousou sonhar para os cinco filhos um futuro diferente do seu presente das privações de pequeno agricultor. Pequeno pelo tamanho da terra, das ferramentas rudimentares e do dinheiro, mas imenso na sua capacidade de preservar, inovar e respeitar a natureza.
No inverno, meu pai andava com os bolsos cheios de pinhão. E os plantava onde achava que no futuro seria bom ter uma araucária. Não se importava com os comentários de quem dizia que “é perda de tempo plantar pinheiros, porque não se vive o suficiente para comer os pinhões”. Meu pai respondia que não havia problema, porque comia os pinhões que outras pessoas plantaram e deixaria suas árvores para as gerações futuras. Tanto plantou que hoje, quando bate a saudade, entro no Google Earth e viajo para nosso pequeno pedaço de terra. Constato que os satélites conseguiram captar a minifloresta de araucárias onde se misturam as que ele plantou, as deixadas pelos ancestrais e as que foram trabalho das gralhas ou da geração espontânea dos pinhões maduros que caíram das pinhas.
Meu pai e minha mãe ficaram órfãos de pai ainda crianças. Foram criados por mulheres fortes e resilientes, que entendiam a morte do companheiro como um desígnio de Deus. É diferente desse vazio do pai ausente por omissão, que aparece nas estatística de hoje, quando se estuda delinquência. A falta de uma figura paterna para dar limites, indicar o norte e distribuir amor é um dos males do século. Felizes somos nós, os que mesmo sofrendo as perdas temos um pai em forma de energia cósmica para celebrar neste segundo domingo de agosto.