Se Porto Alegre nunca tivesse tido passe livre no dia da eleição, seria natural o prefeito Sebastião Melo resistir à liberação das catracas para facilitar o deslocamento de eleitores que moram longe das seções em que votam. Como sempre teve, e a lei mudou no ano passado, só agora, a quatro dias da eleição, "caiu a ficha" de que a votação não está contemplada nos dias de passe livre previstos na lei que alterou as gratuidades.
É verdade que nós, da imprensa, comemos mosca no ano passado em não percebemos que os dias de eleição deixariam de ser de passe livre. A lei manteve apenas o 2 de fevereiro, feriado religioso e festa popular de Navegantes, e o dia de campanhas de vacinação.
Em um primeiro momento, o secretário de Mobilidade Urbana, Adão de Castro, foi peremptório: não haverá mudança porque não há previsão legal e porque o custo para a prefeitura seria de R$ 1,2 milhão. Depois, o prefeito passou a bola para os vereadores. Disse à jornalista Kelly Matos que aceitaria rever a decisão, desde que os 36 vereadores concordassem e fizessem um acordo com o arcebispo Dom Jaime Spengler, para trocar a isenção da Festa de Navegantes pelo dia da eleição.
Antes, porém, em uma mensagem de áudio enviada a vereadores, o prefeito foi, no mínimo, infeliz: comparou o dia da eleição com os festejos farroupilhas ou com a eleição dos conselhos tutelares. Convenhamos que é falta de sensibilidade política comparar a eleição, direito e dever dos cidadãos maiores de 18 anos, com a celebração da Revolução Farroupilha.
Disse Melo no áudio:
“Caríssimos vereadores e caríssimas vereadoras. Eu passo aqui para esclarecer essa falsa polêmica sobre o passe livre da eleição. Primeiro, quero dizer o seguinte: eu sou muito grato à Câmara por ter aprovado uma lei que tirou sete isenções, que reduziu 12 passes livres para o dia da Festa de Navegantes e para o dia que tem vacinação, pode ser mais do que um dia de vacinação, isso está garantido em lei e este ano já tivemos mais do que um dia de vacinação.
Pois bem. A passagem, se nós não tivéssemos feito todas as cirurgias que fizemos, cobradores, isenções, botar mais de R$ 100 milhões, essa passagem estava custando para o bolso do trabalhador R$ 6,60, que o trabalhador, 600 mil pessoas, deveriam pagar todos os dias.
Claro, parte delas os patrões, que têm garantido o TRI, e o restante, que é da informalidade, tem de pagar o valor cheio. Pois bem. Não é só isso. Se olha pro Brasil inteiro, só tem uma Capital que é Manaus, que tem passe livre no dia da eleição.
Bom, esse assunto veio à tona por um tuíte do seu Matheus Gomes, portanto, da oposição. Respeito muito, mas não vou balizar as minhas decisões por Twitter, por isso ou por aquilo. Então, não tem como ter passe livre, não tem por que ter. Porque as pessoas votam perto de suas casas. As pessoas se recadastraram. Agora tem pessoas que não se recadastraram, é uma pequena minoria.
Não posso botar um sistema a funcionar num domingo, que vai custar R$ 1,1 milhão, R$ 1,2 milhão, para atender algumas pessoas que não se recadastraram. Então esse assunto está devidamente esclarecido, eu falei com o secretário da Mobilidade, o secretário deu entrevista na Gaúcha, explicou tim-tim por tim-tim.
Então, por que não é o dia do conselho tutelar, o dia da festa farroupilha ou qualquer outra data? Existe uma lei e eu sou legalista e vou cumprir a lei. Querem discutir passe livre na cidade? Podemos rediscutir, mas vai ter aumento de passagem porque nós estamos botando R$ 100 milhões, de onde nós não podemos tirar.
Cada vez que eu dou mais isenções e passe livre, automaticamente a passagem sobe. Então eu queria esclarecer. Eu tô aqui ocupado , vou responder algumas ligações que me fizeram, mas o assunto está encerrado. Não tem passe livre e não tem como ter, entendeu? Saúde e paz".