Desde que tomou posse como prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo tem deixado claras suas divergências com o governador Eduardo Leite, apesar de o MDB participar do governo estadual e de o PSDB integrar sua base na Câmara. O episódio mais recente é o da liberação dos eventos esportivos, com limite de 40% da capacidade e teto de 2.500 pessoas, mesmo para estádios como a Arena e o Beira-Rio, anunciada na quarta-feira (1º) à noite.
No início da madrugada desta quinta-feira (2), a prefeitura publicou em seu site uma nota com o título “Anúncio de liberação de público em estádios demonstra falta de diálogo com o Estado”. O texto diz que há mais de 45 dias a prefeitura de Porto Alegre e os municípios que integram a Região 10 (Cachoeirinha, Alvorada, Viamão e Glorinha), apresentaram “um plano concreto de reabertura gradativa de grandes eventos e até hoje aguardam uma resposta definitiva para avançar na liberação destas atividades”.
No comunicado, Melo reclama de ter ficado sabendo da liberação pela imprensa e lamenta “a postura do governo do Estado em ignorar a construção e o diálogo entre os municípios”. E reforça: “O que nos causa estranheza é que o governo do Estado se apropria da proposta de cronograma para o setor de eventos e competições esportivas e lança protocolos próprios, sem um mínimo de debate com os municípios”.
Em oito meses de governo, Melo teve outros embates com o governador, a maioria por divergências em relação às restrições impostas pelo governo do Estado às atividades econômicas e de lazer. Logo no início do mandato, chegou a desafiar um decreto estadual e mandar reabrir o comércio, mas acabou derrotado na Justiça.
Também no início da gestão, o prefeito contrariou a orientação do Piratini e mandou distribuir na rede pública de saúde o chamado kit covid (cloroquina, azitromicina, ivermectina, zinco e outras drogas). A iniciativa só não prosperou porque o PSOL entrou na Justiça e obteve liminar contra a distribuição de medicamentos sem eficácia comprovada contra a covid.
Recentemente, Melo se insurgiu contra o programa Assistir que mudou a forma de distribuição dos incentivos aos hospitais, e que significará redução das verbas para a Região Metropolitana. A mudança nos critérios, que levam em conta a produtividade e os serviços oferecidos, é apoiada pela maioria dos prefeitos do Interior e pela Associação dos Hospitais Filantrópicos e Santas Casas.
Além disso, enquanto presidente da Associação dos Municípios da Região Metropolitana da Grande Porto Alegre (Granpal), reclamou da proposta de regionalização do saneamento básico entregue pelo governo do Estado à Assembleia Legislativa.
Para além dos embates diretos, há divergências pontuais entre prefeitura e governo do Estado que não contribuem para melhorar a relação, sobre temas como a localização da rodoviária e o pagamento pelo abastecimento de água do Presídio Central.