Depois de cinco depoimentos tomados pela CPI da Covid, já é possível antecipar qual será a conclusão do relatório final, que ainda está longe de ser terminado: houve omissão do governo de Jair Bolsonaro no enfrentamento à pandemia. Em vez de priorizar a vacina, o presidente gastou tempo, dinheiro e energia com medicamentos sem eficácia, como a cloroquina.
Fragmentos das falas dos ex-ministros Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, do presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres, e do ex-secretário de Comunicação Fabio Wajngarten já sustentavam essa conclusão precoce, reforçada no depoimento do gerente-geral da Pfizer para a América Latina, Carlos Murillo. Falta ouvir o personagem principal, o ex-ministro Eduardo Pazuello, que está tentando no Supremo Tribunal Federal uma licença para ficar calado.
Murillo confirmou o que já se sabia: o governo ignorou as primeiras ofertas da farmacêutica para compra de 70 milhões de doses da vacina mais aplicada o mundo. Foram cinco propostas em 2020. Se tivesse fechado o negócio em agosto, o Brasil teria recebido, até março, 4,5 milhões de doses da Pfizer.
Falando português com sotaque espanhol, Murillo detalhou todas as tentativas de contato com o governo brasileiro, as reuniões que deram em nada e, por fim, os contratos firmados, que resultaram nas primeiras remessas do imunizante. Não trouxe novidades: apenas preencheu lacunas que faltavam para montar o quebra-cabeça.
Integrantes da CPI gastaram boa parte do tempo esmiuçando uma reunião com duas executivas da Pfizer da qual participaram o assessor internacional Filipe Martins e o vereador Carlos Bolsonaro, o filho zero dois do presidente da República.
O que fazia um vereador do Rio de Janeiro em reunião do então chefe da Secretaria de Comunicação, Fabio Wajngarten, com duas executivas da Pfizer? Murillo, por óbvio não soube responder. Nem sabia da presença de Carluxo na dita reunião. Teve de pedir informação às executivas, que confirmaram: o segundo filho chegou com a conversa em andamento, ouviu de Wajngarten um resumo da reunião e saiu.
Não chega a ser novidade a presença de Carluxo em reuniões que tratam de negócios de Estado. No primeiro depoimento, Luiz Henrique Mandetta contou aos senadores que estranhava a presença do filho de Bolsonaro em reuniões estratégicas, ora sentado numa cadeira, tomando notas, ora ocupando o lugar de um ministro na mesa.
A partir do depoimento de Murillo, alguém tem dúvida de que Carluxo será convocado? Por seu histórico de desequilíbrio nas redes sociais, o filho abelhudo é forte candidato a recorde de audiência na CPI.
Aliás
Diante do pedido do ex-ministro Eduardo Pazuello ao STF para não ser obrigado a falar na CPI, fez sucesso na internet um tuíte de 20115 do então deputado Onyx Lorenzoni que diz: “Cerveró ouviu de mim que em CPI quem se vale do direito de ficar calado tem coisa a esconder, só bandido usa isso”. Onyx se referia a Nestor Cerveró na CPI da Petrobras.