Na sessão realizada nesta quinta-feira (13), a CPI da Covid ouviu o depoimento do gerente-geral da Pfizer na América Latina, Carlos Murillo. Em sua fala, o representante confirmou que o governo federal ignorou oferta de vacinas, entre agosto e setembro de 2020, em contratos oferecidos pela farmacêutica que previam 1,5 milhão de doses ainda naquele ano. Um contrato com a empresa foi fechado apenas em 19 de março de 2021. A sessão foi encerrada por volta das 16h.
Abaixo, confira os principais pontos do depoimento:
Primeira oferta ocorreu em 14 de agosto
Conforme Murillo, a primeira oferta de venda de vacinas foi feita pela farmacêutica ao Ministério da Saúde em 14 de agosto do ano passado. Eram dois tipos de ofertas, de 30 milhões ou 70 milhões de doses do imunizante, que estava em desenvolvimento, com as mesmas condições de compra.
Segundo ele, outras ofertas foram feitas em 18 e 26 de agosto, com os mesmos números de doses, sendo que a última tinha o prazo de 15 dias para receber uma resposta. O governo brasileiro, no entanto, não respondeu a proposta.
— O governo não rejeitou. Tampouco aceitou a oferta. Não teve resposta positiva nem negativa — afirmou Murillo.
Murillo ainda afirmou que, pouco depois dessas ofertas, em setembro do ano passado, o CEO da Pfizer, Albert Bourla, enviou uma carta ao presidente Jair Bolsonaro, em que falava da proposta feita ao Brasil. A carta foi apresentada à CPI na quarta pelo ex-secretário de Comunicação Social da Presidência Fábio Wajngarten. "Em 12 de setembro mandamos comunicação ao Brasil para se chegar a acordo de propostas", disse o texto.
Além de Bolsonaro, o CEO da Pfizer endereçou a carta ao vice-presidente da República, Hamilton Mourão, ao então ministro da Casa Civil (hoje Defesa), Walter Braga Netto, ao ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, ao ministro da Economia, Paulo Guedes, e ao embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Nestor Foster.
No entanto, o Brasil só fechou acordo com a Pfizer em 19 de março de 2021.
Negociações só avançaram depois de promulgação de projeto
Murillo relatou ainda que as negociações da farmacêutica com o Brasil só avançaram após a promulgação de um projeto de autoria do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), que previa que o poder público poderia se responsabilizar pelos efeitos da vacinação, conforme exigido pelas farmacêuticas Pfizer e Janssen.
À época, essa medida foi criticada pelo presidente da República. Bolsonaro se disse contrário a exigência das farmacêuticas, que incluíam no contrato uma cláusula de isenção de responsabilidade em relação a possíveis efeitos colaterais da vacina contra a covid-19. Essa e outras condições impostas ao Brasil são as mesmas aplicadas a todos os países que compraram imunizantes da Pfizer, afirma a companhia.
Apesar de o projeto ter sido aprovado pelo Senado, parlamentares observaram, na quarta, durante sessão da comissão, que o próprio governo federal poderia ter mudado essa legislação a qualquer momento para fechar o contrato com a farmacêutica, por meio de uma medida provisória.
Reunião contou com a presença de filho do presidente
O gerente-geral confirmou à CPI a participação do vereador do Rio de Janeiro e filho do presidente, Carlos Bolsonaro, e do assessor especial da Presidência, Filipe Martins, em reunião com a empresa durante as tratativas sobre a venda de vacina em 7 de dezembro.
Assim, Murillo rebateu a versão dada na quarta por Wajngarten. Segundo Murillo, o vereador participou das reuniões e das tratativas para compras de vacinas, o contrário do que havia dito Wajngarten.
Murillo contradiz ex-secretário da Comunicação
Em outro ponto do depoimento, o representante da Pfizer negou que tenha tido uma negociação paralela envolvendo Wajngarten para a venda de vacinas, como foi alegado pelo ex-secretário na quarta à CPI.
De acordo com Murillo, a Pfizer procurou diferentes autoridades governamentais durante o processo de venda das vacinas para assegurar que o procedimento continuava. O gerente-geral também esclareceu que o contato com Wajngarten se deu após o ex-secretário entrar em contato com a matriz da empresa tentando comunicação com o CEO global.
O gerente-geral da farmacêutica confirmou que conversou por telefone com o ministro da Economia, Paulo Guedes, no ano passado, sobre uma oferta de venda de vacinas da farmacêutica para o país.
Na quarta, em depoimento à CPI, Wajngarten afirmou que, ao saber da demora do governo em responder a farmacêutica, ele teria marcado uma reunião com a empresa e que, no encontro, o CEO da Pfizer o agradeceu por ter respondido à carta, mas que nenhuma negociação sobre valor ou quantidade de doses foi discutida.