Uma das informações que os senadores da CPI da Covid fizeram o gerente-geral da Pfizer na América Latina, Carlos Murillo, repetir várias vezes nesta quinta-feira (13) já havia sido tornada pública, ainda que de forma irregular.
O preço de cada dose, de US$ 10, foi uma das informações que constava no contrato que o Ministério da Saúde publicou na internet, apesar da cláusula de confidencialidade que proibia essa iniciativa.
Segundo Murillo, o valor unitário não sofreu alteração entre a primeira oferta, datada de 14 de agosto de 2020, e o contrato firmado. Entre a proposta inicial e o acordo, porém, foram necessárias três cartas e três meses. O executivo confirmou à CPI que o Brasil poderia ter recebido 14,5 milhões de doses entre o final de 2020 e março de 2021. Esse número não será recuperado, assim como as vidas que deixaram de ser salvas nesse período por falta de imunização.
Sim, a Pfizer ganhou muito dinheiro com a vacina desenvolvida em parceria com a BioNTech, com sede na Alemanha mas criada por um imigrante turco e uma filha de imigrantes turcos. Mas Murillo deixou claro que as duas sócias tinham uma política de preços para cada nível de desenvolvimento das nações: um para as de renda alta, outra para as de média e a terceira para as de baixa renda. Para o Brasil, conhecido como país de renda média, foi oferecida a faixa intermediária que lhe cabia.
Em tom sereno, cercado de documentos, atento aos detalhes e sem cair em armadilhas para dar opinião sobre o que não sabia, Murillo pôs em xeque quase todas as evasivas do governo Bolsonaro para o atraso na chegada ao Brasil da primeira vacina aprovada no mundo.
Garantiu que as "cláusulas leoninas" alegadas pelo ex-ministro Eduardo Pazuello são as mesmas nos 110 países para os quais a farmacêutica fornece imunização contra a covid-19. Com a mesma neutralidade executiva, o gerente-geral afirmou que a oferta não era de 6 milhões de doses, mas 70 milhões. Ficou mais difícil para o governo Bolsonaro justificar a incúria sanitária durante a pandemia.