Na temporada de balanços corporativos do primeiro trimestre, um chamou mais atenção: o da americana Pfizer, fabricante da primeira vacina aprovada para a covid-19. Como a imunização começou no final de 2020, foi no período de janeiro a março que a farmacêutica começou a receber a maior parte dos mais de 30 contratos de venda.
E o resultado foi impressionante: cerca de um quarto de toda a receita veio das doses mais usadas no mundo para combater o coronavírus, US$ 3,5 bilhões (cerca de R$ 19 bilhões). A Pfizer não informou o lucro específico com a vacina, mas com base na estimativa de margem entre 20% e 30%, seria algo entre R$ 3,8 bilhões e R$ 5,7 bilhões.
Pelos números, portanto, a dona da fórmula mais usada na imunização global, é também a mais potencialmente impactada pela proposta de suspensão de patentes proposta pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e aceita pelos Estados Unidos na quarta-feira (5), e com sinal de adesão da União Europeia nesta quinta-feira (6).
É importante observar que, neste caso, não se fala em quebra de patentes, mas em suspensão, de forma emergencial, enquanto o mundo enfrenta dificuldades para acelerar a imunização. Como justificou a representante de comércio dos EUA, Katherine Tai, circunstâncias sem precedentes exigem medidas sem precedentes. Historicamente, o lobby de empresas como Pfizer e Moderna fez os EUA rejeitarem qualquer proposta de flexibilização de patentes.
As empresas argumentam que, como investiram para desenvolver as fórmulas, é justo remunerar esse investimento. Ao menos no caso da Pfizer, porém, parte dos recursos para a a nova rota científica de RNA mensageiro, veio de fundos públicos. Como a coluna relatou, a tecnologia foi desenvolvida pela parceira BioNTech, startup criada por um imigrante turco e uma filha de imigrantes turcos, e financiada por recursos do governo alemão.
Sem vacina própria, apesar do avanço da ButanVac, o Brasil ainda se opõe à suspensão de patentes das vacinas. Se o país que representa a empresa que mais lucrou com a venda de fórmulas e está com imunização avançada aceitou as circunstâncias extraordinárias, seria bom que a oposição brasileira chegasse à CPI da Covid para ser melhor compreendida.