Dez dias se passaram entre o primeiro debate do segundo turno, na Rádio Gaúcha, e o último, nesta sexta-feira (27), na RBS TV. Os candidatos Manuela D’Ávila e Sebastião Melo não pareciam os mesmos. A tensão marcou o confronto de uma hora, mediado pela jornalista Daniela Ungaretti.
Sorteado para perguntar primeiro, Melo começou por um assunto polêmico, a PPP do saneamento, tema em que os dois divergem. Ele é a favor da parceria com a iniciativa privada, alegando que o DMAE não tem recursos para bancar a universalização do tratamento de esgotos. Ela é contra e alega que onde ocorreu a PPP, caso de Uruguaiana, a tarifa de água custa o dobro do preço.
Na sua vez de perguntar, Manuela questionou Melo sobre o que chamou de “fake news postadas de maneira pública e assinadas”, referindo-se a um vídeo, postado nas redes sociais da campanha distribuído pelo WhatsApp do candidato. Com base em recortes de notícias antigas, o vídeo acusa a adversária de ter recebido dinheiro ilegal da Odebrecht. Manuela disse que a denúncia foi arquivada a pedido do Ministério Público. Melo se atrapalhou na resposta, deixando a impressão de que não sabia do arquivamento.
Em seguida, Melo questionou Manuela sobre a revitalização da orla do Guaíba e lembrou que militantes de partidos aliados a sua candidatura subiram em árvores para evitar o corte, necessário à duplicação da Av. João Goulart, e vaiaram o arquiteto Jaime Lerner, autor do projeto. Manuela ignorou a história (verdadeira) das vaias e a mobilização contra a derrubada das árvores e respondeu que vai dar continuidade à revitalização da orla.
Ao longo de todo o debate, os dois trocaram alfinetadas. Melo aparentava cansaço e Manuela, que se comunica com mais facilidade, acabou ocupando melhor o espaço, embora os tempos fossem rigorosamente iguais.
Os dois repassaram outras diferenças explicitadas nos debates e entrevistas anteriores: ela pela manutenção da Carris pública, ele defendendo a privatização; ele prometendo revogar todos os próximos aumentos já aprovados do IPTU, ela dizendo que só vai suspender o próximo, para imóveis não residenciais. Divergiram em relação à vacina para a covid-19, com Manuela dizendo que quer comprar as doses e Melo apostando que o governo federal fará um programa de imunização.
Os dos convergiram na promessa de um programa de microcrédito para alavancar pequenos negócios, na ampliação da oferta de vagas em creches e escolas de educação infantil.
O clima esquentou quando Manuela questionou Melo por não ter concluído as obras da Copa, já que era vice de José Fortunati. O candidato respondeu que nunca foi prefeito e que não podia ser cobrado. A adversária contra-atacou dizendo que ele a chama de inexperiente, mas quando é cobrado apor alguma coisa da gestão da qual foi vice, reage dizendo que nunca foi prefeito. Melo acusou o PT por não ter feito o metrô de Porto Alegre e liberado dinheiro para a construção do metrô de Caracas. Manuela lembrou que o empréstimo para a Venezuela foi feito no governo de Fernando Henrique Cardoso — e Melo não contestou.
O candidato do MDB também se exaltou ao dizer que a adversária quer dividir a cidade entre brancos e negros, ricos e pobres, referindo-se aos vídeos em que a campanha de Manuela trata de racismo. Disse que a “turma” dela “praticou fake news” contra sua campanha e fez acusações gravíssimas.
Manuela ainda reclamou dos carros de som de aliados de Melo que espalham mentiras contra ela. Não citou nomes, mas estava claro que se referia ao deputado Bibo Nunes, que circulou pela cidade com um alto-falante dizendo que Manuela, se vencer a eleição, mandará fechar as igrejas e os porto-alegrenses comerão carne de cachorro, como na Venezuela.