A comparação entre o mapa preliminar divulgado na sexta-feira (17) e o que vai vigorar nos próximos sete dias, após a análise dos recursos apresentados pelos prefeitos, coloca em xeque a credibilidade do modelo de distanciamento controlado. No mapa de sexta, 90% do Estado ficou sob bandeira vermelha. Apenas duas regiões (Pelotas e Bagé) estavam com bandeira laranja. Depois dos recursos, nada menos do que 10 regiões conseguiram sair da situação de risco alto (vermelha) para risco médio (laranja): Santa Maria, Uruguaiana, Santo Ângelo, Cruz Alta, Ijuí, Santa Rosa, Erechim, Cachoeira do Sul, Santa Cruz e Lajeado.
Se o mapa das bandeiras é definido por critérios técnicos, com base em dados apurados até quinta-feira, como pode mudar tanto após a apresentação dos recursos? Diante desse vaivém é legítimo questionar se há falhas na análise preliminar ou se o comitê que avalia os recursos está muito suscetível à pressão dos prefeitos.
Há uma inversão de sinais. Pelo mapa de sexta-feira, a situação no Estado tinha piorado bastante em relação à semana anterior. Pelo que ficou depois da revisão, melhorou. É ou não é de deixar os gaúchos confusos?
Para aumentar a dificuldade de entendimento dos critérios, há casos em que o escore final de regiões que tiveram o recurso rejeitado é menor do que outras que conseguiram migrar para a bandeira laranja. Quando maior o número, pior a situação — 2,50 é bandeira preta. Palmeira das Missões está em 1,93 e ficou em vermelho. Santa Rosa (1,96) e Uruguaiana (2,11) voltaram para laranja.
O governador Eduardo Leite disse que a preocupação do governo é "conciliar a preservação da vida com o menor impacto possível na economia” e que os recursos são uma forma de dialogar com os prefeitos. É com esse espírito que Leite planeja alterar, nos próximos dias o modelo de distanciamento controlado, dando mais autonomia aos prefeitos, processo de que ele chama de “corresponsabilidade” para garantir maior comprometimento no cumprimento das regras.
Leite comparou o modelo a uma árvore que precisa ser flexível para vergar ao vento e se manter presa às raízes. No caso do modelo de distanciamento, o “vento” seria a pressão dos prefeitos e dos setores econômicos.