São apenas 57 segundos de imagens sem movimento, em preto e branco. Um vídeo simples, montado apenas com fotos de mulheres que fazem a segurança pública no Rio Grande do Sul segurando cartazes. Você abre e nada ouve, mas lê no cartaz: “Este vídeo não tem som. Então fique tranquila”. E nas imagens seguintes:
“Se você está sofrendo algum tipo de violência, peça ajuda.”
“Emergência e risco imediato: Brigada Militar 190”
“WhatsApp da Polícia Civil (51) 98444-0606”
“SSP-RS.GOV.BR/DENUNCIA-DIGITAL ou ligue para 181”
“Emergência Polícia Civil 197”
“Rompa o silêncio”
“Estamos com você. É só chamar”.
Entre as mulheres que seguram os cartazes está a chefe de Polícia, delegada Nadine Anflor. O vídeo vem a propósito de uma triste constatação: enquanto os outros crimes caíram drasticamente durante o período de distanciamento social, em abril o de feminicídio aumentou 66,7% em comparação com o mesmo mês do ano passado. Dez mulheres mortas por questões de gênero em 30 dias. Nos primeiros quatro meses de 2020 foram 36.
Dois, em particular, me abalaram profundamente neste quadrimestre. Uma mulher madura e uma quase menina, vítimas dos monstros a quem amaram e, por não acreditar que pudessem chegar ao extremo, confiaram.
Primeiro, em 17 de abril, foi a ex-diretora do Procon e então presidente da Agência de Regulação dos Serviços Delegados no rio Grande do Sul, Maria Elizabeth da Rosa Pereira, morta a tiros pelo companheiro, o segundo sargento a reserva José Pedro da Rocha Tavares, 49 anos, que sem seguida tentou o suicídio. Advogada e pintora nas horas vagas, Elizabeth deixou um filho, dois netos e uma legião de amigos inconformados.
Quando sair a estatística de maio, um dos números terá o rosto da doce Luiza Vitória Bica Gonçalves, 22 anos, a filha da secretária Sheila Bica, conhecida pela simpatia com que atendia pais e mães no Colégio Americano. A menina da Sheila foi morta a facadas no dia 6 de maio pelo ex-namorado Fabio Freitas de Medeiros, que fugiu em alta velocidade, capotou o carro e foi preso.
O depoimento de Sheila à repórter Jennifer Gularte, de GaúchaZH, é avassalador. Porque só depois da tragédia ela soube, pelos amigos, que o monstro que ela acolhera em sua casa era muito mais violento do que a filha contava. Matou por não aceitar o fim do relacionamento.
O vídeo da Secretaria da Segurança Pública tem o objetivo de alertar as mulheres que sofrem com a violência doméstica para que denunciem enquanto é tempo. Se na quarentena não conseguem sair de casa para ir até a delegacia, que usem os canais digitais. E se você souber que alguma mulher está correndo risco, não hesite: peça socorro por qualquer meio, que a Brigada Militar e a Polícia Civil estão prontas para ajudar.