O jornalista Henrique Ternus colabora com a colunista Rosane de Oliveira, titular deste espaço.
Depois de 14 anos, a trajetória de Luiz Fernando Mainardi (PT) na Assembleia Legislativa chega ao fim ou sofre mais uma interrupção. Na metade do terceiro mandato consecutivo, o petista renunciou à função de deputado estadual para assumir, em janeiro, como prefeito de Bagé — cargo para o qual foi eleito neste ano com 51,71% dos votos válidos. Mainardi oficializou sua renúncia ao cargo nesta terça-feira (17), e deixa o Legislativo após a última sessão do ano, que vota o pacote de projetos do governo estadual.
— Hoje é um dia de um certo vazio por estar saindo e deixando muitos amigos, mas na hora que coloco o pé em Bagé me encho de vontade e de alegria de poder realizar as coisas que a gente planeja fazer para a cidade — destacou Mainardi, à coluna.
Emocionado, o agora ex-deputado recebeu os aplausos dos colegas de bancada no início da sessão desta terça. O petista foi eleito para o primeiro mandato na Assembleia em 2010, mas ocupou a Secretaria de Agricultura do governo estadual durante praticamente todo o primeiro mandato, entre 2011 e 2014, quando foi reeleito. Em 2015, entrou de vez na Assembleia onde permaneceu até agora, destacando o parlamento gaúcho como um "exemplo" ao país.
— De certa forma, (a despedida) carrega um pouco de emoção, porque são 12 anos intensos. Aprendi muito, tenho muito respeito. Aqui é um exemplo para o país em termos de um sistema democrático que funcione. As decisões administrativas sao tomadas pela mesa diretora, o presidente não tem o poder que outros presidentes têm, a pauta é definida pelos líderes, num sistema que respeita a representação partidária. É uma Casa que só ensina pra gente, aprendi muito e dei minha contribuição.
Natural de Sobradinho, a mais de 300km de Bagé, Mainardi ingressou no curso de direito da Universidade da Região da Campanha (Urcamp) em 1979, quando começou sua trajetória política. Foi vereador em Bagé entre 1983 e 1992, e mais tarde tornou-se prefeito, cargo que ocupou por dois mandatos consecutivos, entre 2001 e 2008. No meio do caminho, também foi deputado federal.
Com a saída da Assembleia, Luiz Fernando Mainardi dá espaço para Halley de Souza, primeiro suplente do PT — que chegou a começar a campanha como candidato do partido à prefeitura de Rio Grande, mas desistiu no início de setembro e foi substituído pela vencedora Darlene Pereira. Halley assume nesta quarta-feira (18), quando também será confirmada a renúncia de Mainardi no Diário Oficial.
Transição
Mainardi vai encarar uma situação dificílima na prefeitura que termina o atual mandato em meio a uma crise. Com um déficit de pelo menos R$ 10 milhões em dezembro, o prefeito Divaldo Lara (PRD) renunciou ao cargo em 7 de novembro, faltando 54 dias para concluir a gestão.
Lara deixou o comando da cidade — e a busca por uma solução para os débitos orçamentários — nas mãos do vice, Mário Mena Kalil (PTB), que tenta de todas as formas cortar gastos para dar conta de pagar o máximo que conseguir até o final do ano.
— Alguns dizem que está no osso, limparam toda carnezinha e nos entregaram no osso. Sou o único deputado estadual saindo, isso demonstra as dificuldades que tem em ser prefeito, ninguém quer. São enormes responsabilidades, limitações, falta de recursos, o caso de Bagé é mais grave ainda, porque os caras quebraram. São 300 e tantos milhões de reais em dívidas. Atual governo tem 357 CCs (cargos comissionados) e aprovou uma lei que no dia 31 de dezembro termina os CCs. Querem inviabilizar o novo governo — relata Mainardi.
Em meio ao caos, o prefeito eleito dá andamento à transição. O petista conta que tem uma boa relação "dentro dos limites" com o atual prefeito, a quem reconhece o esforço para ajustar as contas do município.
— O objetivo dele é juntar dinheiro de todos os lados para pagar dezembro e 13º. Percebo que ele está fazendo o melhor, dentro do quadro que ele tem. Quanto maior o problema, maior o desafio, e maior o meu desejo e a vontade de resolver os problemas e superá-los. Estamos constituindo um grande governo, uma equipe excelente, vamos resgatar a responsabilidade. Confiança nós temos.
Mainardi já anunciou seis secretários para o próximo ano, entre eles o cineasta Zeca Brito, que vai assumir a pasta da Cultura. Além dele, irão compor o primeiro escalão Adriana Kisata (Fazenda), Edegar Franco (Infraestrutura Urbana), Marlon Monteiro (Assistência Social), Cáren Castêncio (Educação) e Max Meinke (Segurança e Mobilidade Urbana).