Na dança de cadeiras confirmada na tarde desta quinta-feira, o grande derrotado foi o deputado federal Osmar Terra (MDB), que perdeu o Ministério da Cidadania para o conterrâneo Onyx Lorenzoni (DEM). Terra perdeu mais do que ganhou nos 13 meses e 13 dias que permaneceu no governo de Jair Bolsonaro.
Onyx tem a chance de se reinventar na área social, depois do naufrágio como articulador político. Vai trocar os holofotes do Palácio do Planalto e a proximidade física com o presidente da República por um ministério operacional, que exigirá outras competências, principalmente a de gestor, dado o número de secretarias que terá sob sua responsabilidade.
Desde 2018, quando foi indicado para a Casa Civil na montagem do governo Bolsonaro, Onyx coleciona desafetos. Um dos primeiros a lhe declarar guerra aberta foi o presidente da União Democrática Ruralista (UDR), Luiz Antônio Nabhan Garcia, antes mesmo da posse, quando aliados de Bolsonaro especulavam que ele não subiria a rampa do Planalto como ministro.
“Já vi muito pavão virar espanador”, escreveu Garcia em um grupo de WhatsApp da UDR, tecendo críticas ao que chamou de “prepotência, arrogância e despreparo” de Onyx.
Na Casa Civil, o ministro tornou-se o defensor mais aguerrido do governo e da reforma da previdência. Chegou a dizer, em entrevista à Rádio Gaúcha, que quando a reforma fosse aprovada dormiríamos no Brasil e acordaríamos no Canadá. Com dificuldades de relacionamento no Congresso, não conseguiu firmar-se como articulador e perdeu essa função.
Caiu da Casa Civil pelo conjunto da obra, mas a gota d'água foi um episódio sobre o qual não tem responsabilidade: estava em férias quando seu adjunto José Vicente Santini abusou do poder que o cargo lhe conferia e requisitou um avião da FAB para ir a Davos, na Suíça, e de lá para a Índia. Bolsonaro demitiu o interino e Onyx interrompeu as férias para tentar salvar o cargo.
No Ministério da Cidadania, o gaúcho terá sob seu comando os principais programas sociais do governo, entre eles o Bolsa-Família, que hoje passa por um momento difícil e contribuiu para a queda de Terra. No caso do ministro da Cidadania, a gota que fez transbordar o copo foram as denúncias de contratação da empresa B2T, investigada por fraudes no Ministério do Trabalho.
Terra alega que todos os funcionários da linha de decisão envolvidos na contratação da empresa foram afastados "num processo de aperfeiçoamento dos controles", a partir de agosto de 2019. Em nota, disse que a investigação das fraudes no Ministério do Trabalho só chegou a seu conhecimento na semana passada.
Assim como Onyx, Terra vinha perdendo altitude nos últimos meses. Bolsonaro desidratou seu ministério, transferindo a Cultura para o Turismo, mas ele metabolizou. Disse até que foi um pedido seu, porque a Cultura sugava energia demais.
Médico com longo histórico de trabalho na área da saúde pública, desde os primórdios do SUS, quando era prefeito de Santa Rosa, Terra certamente gostaria de ser lembrado no futuro como o criador do programa Primeira Infância Melhor (PIM). A forma como deixa o governo, desprestigiado, pode afetar seus planos políticos futuros, até porque assumiu o cargo por sua conta e risco, sem o aval do MDB.
Em uma avaliação preliminar, Terra perdeu mais do que ganhou com o alinhamento a Bolsonaro. A guinada ideológica e a adesão a teses conservadoras surpreendeu antigos companheiros que, na hora da fritura, não moveram uma palha para tentar salvá-lo da fogueira.
Para além da perda da vitrine de um ministério como a Cidadania, Terra deixa pelo caminho vários aliados políticos. Nas longas abas da pasta, ele mantinha em cargos importantes dois ex-secretários do governo José Ivo Sartori, Ana Pellini e Cezar Schirmer, mas também abrigava vários emedebistas do Interior do Estado no terceiro escalão, além de filhos do deputado estadual Sebastião Melo e do ex-deputado Alberto Oliveira.