Quando setembro vier, a reforma da Previdência aprovada com folga na Câmara dos Deputados na quarta-feira deverá passar pelo Senado. Pelas previsões do chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, no dia em que o processo for concluído “dormiremos no Brasil e acordaremos no Canadá”. Em outras versões, despertaremos na Nova Zelândia, na Austrália ou no Chile. Trata-se de simples retórica: na vida real, a primavera não será assim tão colorida.
É fato que o mercado considera a reforma da Previdência essencial para o Brasil reconquistar a confiança dos investidores, mas nada ocorrerá do dia para a noite. Agências de classificação de risco já avisaram que só essas mudanças não serão suficientes para elevar a nota do Brasil e retomar o grau de investimento.
Um país com as contas desajustadas não é atraente para quem procura um porto seguro para seu dinheiro. O déficit da Previdência foi de R$ 194 bilhões em 2018. A mudança do perfil demográfico mostra que o modelo atual, pelo qual a geração em atividade sustenta a que já se aposentou, não para em pé sem a fixação de idade mínima.
O Brasil é um dos poucos países que ainda não tinha idade mínima, embora tenha criado freios para retardar a aposentadoria, como a fórmula 85/95 (hoje 86/96), que combina idade e tempo de contribuição, e o fator previdenciário, que impõe redutor no benefício para quem se aposenta cedo.
Tão cedo não acordaremos no Canadá, porque seguiremos convivendo com índices absurdos de analfabetismo, violência, falta de saneamento, desemprego e desigualdade social.