Reeleitos deputados federais em 2018, Onyx Lorenzoni (DEM) e Osmar Terra (MDB) nunca correram risco de ficar ao relento se perdessem os ministérios aos quais se agarraram com unhas e dentes, apesar do evidente processo de fritura a que foram submetidos nos últimos dias. No mínimo por gratidão pelo que os dois fazem para defender seu governo até nas questões indefensáveis, Bolsonaro deveria poupar os dois gaúchos da humilhação.
Ou vem a público e desmente a demissão ou anuncia de vez as mudanças no ministério, agradece pelos bons serviços prestados e acaba com essa agonia em praça pública.
Diante das notícias de que Bolsonaro convidou o general Walter Braga Netto para assumir a chefia da Casa Civil, e que Onyx seria rebaixado a ministro da Cidadania, os dois gaúchos vieram a público para dizer que não sabiam de nada. A informação mais recente é de que Onyx "aceitou" trocar a Casa Civil pelo ministério que Osmar Terra ocupa desde o início do governo.
Não será surpresa se Bolsonaro prolongar o suspense, até porque Braga Netto estaria resistindo a aceitar o cargo. Circulam informações de que o general Augusto Heleno foi sondado e não aceitou substituir Onyx.
Em um ano, Bolsonaro mostrou que é adepto da fritura em fogo brando. Queima os ministros e depois diz que as notícias sobre a saída eram fake news, como fez com Ricardo Vélez, o ministro da Educação demitido depois de semanas de fritura e substituído por Abraham Weintraub – outro que se dependesse dos aliados do governo já teria recebido o bilhete azul.
O presidente usou método idêntico para fritar Gustavo Bebbiano, o ministro que inaugurou o Vale dos Caídos. Bebianno saiu por pressão dos filhos do presidente, especialmente de Carlos Bolsonaro. Virou um crítico do governo. O general Santos Cruz passou pelo mesmo processo. Sem alarde, o presidente demitiu Gustavo Canuto e colocou em seu lugar Rogério Marinho, peça-chave na aprovação da reforma da Previdência e que, pelo bom trânsito no Congresso, parecia ser o candidato natural à cadeira de Onyx.
Onyx é do time nuclear de Bolsonaro. Fez campanha para o presidente, contrariando a orientação do DEM, que na eleição de 2018 estava com Geraldo Alckmin. A se confirmar a troca, Onyx tentará fazer limonada do limão e dizer que é mais útil à pátria no Ministério da Cidadania.
Do ponto de vista político, é um rebaixamento: a Casa Civil forma com os ministérios da Justiça e da Economia o tripé mais importante do governo. Para quem tem pretensões eleitorais, o Ministério da Cidadania é mais interessante, porque tem sob seu guarda-chuva os programas sociais do governo.
Onyx e Terra sonham com o Palácio Piratini, mas a eleição é só daqui dois anos e sete meses. Como o governador Eduardo Leite não será candidato à reeleição, o cenário está aberto, mas Terra sai enfraquecido porque, deixando o ministério, voltará para a planície do parlamento, onde nunca brilhou porque sua vocação é para o Executivo.