A recondução do promotor Fabiano Dallazen como chefe do Ministério Público Estadual, feita no final da manhã desta quarta-feira (22) na Federasul, pelo governador Eduardo Leite, é resultado de uma combinação de fatores em que o fato de ter sido o mais votado na eleição interna é apenas o primeiro. A diferença nem foi muito significativa: Dallazen fez 410 votos e Márcio Schlee Gomes, 342. O terceiro da lista tríplice, Luiz Henrique Corrêa, 54.
Na segunda-feira, em entrevista ao Gaúcha Atualidade, o governador deixou a porta aberta para escolher qualquer um dos dois. Disse que tinha um bom problema, porque Dallazen e Gomes eram excelentes candidatos, e que não tinha obrigação de indicar o mais votado. Citou até exemplos de governadores que optaram pelo segundo.
À tarde, pediu o vídeo do debate entre os candidatos para embasar sua decisão. Brincou com assessores que faria uma "sessão pipoca" no Piratini. O conteúdo do debate foi decisivo na escolha de Dallazen. Avaliando a gravação, Leite concluiu que Márcio Gomes tinha discurso oposto ao dele.
Antes do anúncio, havia especulações de que optaria por Gomes, por ser pelotense como ele e amigo de um dos seus irmãos. Essa associação teria incomodado o governador, que não gosta da expressão "República de Pelotas" e não queria dar conotação pessoal à escolha para um cargo tão importante.
Havia mais uma pelotense na chapa, a promotora Roberta Brenner de Moraes, casada com o também pelotense Otaviano Brenner de Moraes, procurador aposentado e ex-secretário do Meio Ambiente no governo da tucana Yeda Crusius.
A favor de Dallazen pesou o comportamento republicano e colaborativo que teve com o governo de José Ivo Sartori. Foi peça fundamental na operação de transferência de chefes de facção para presídios federais e colaborou com o Piratini em momentos críticos, concordando em deixar parte do duodécimo no caixa único por alguns dias, para permitir o pagamento dos salários mais baixos de servidores do Executivo.
Leite justificou a escolha da Federasul como palco do anúncio dizendo que achou conveniente porque Dallazen e o procurador-geral do Estado, Eduardo Cunha da Costa, fariam, em seguida, palestra sobre o papel da Justiça.
— Acho que ele vai fazer a palestra dele melhor, mais tranquilo, sem a tensão da espera — brincou.
Leite acrescentou que também escolheu a Federasul porque, no final do ano passado, a entidade deu uma demonstração de desprendimento ao apoiar a renovação das alíquotas de ICMS, contrariando seus interesses imediatos.
— A Federasul mostrou que tem uma liderança capaz de enxergar a floresta e não apenas a sua árvore — afirmou, referindo-se à presidente da federação, Simone Leite, que não é sua parente, e aos dirigentes da entidade.
Leite disse que Dallazen tem essa mesma compreensão política de que é preciso buscar convergências, sem abrir mão da independência e do papel fiscalizador da instituição, e não ficar refém das pautas corporativas.