A facilidade com que conseguiu aprovar, em dois turnos, a emenda que acaba com a exigência para privatizar a CEEE, a Sulgás e a CRM pode passar a ideia de que a maioria construída na Assembleia garante ao governador Eduardo Leite uma travessia sem turbulências. Não é bem assim. Leite enfrentará dificuldades bem maiores quando apresentar os projetos de reestruturação de carreiras dos servidores, que afetam milhares de pessoas, entre as quais os professores e os brigadianos.
A PEC do Plebiscito teve 40 votos favoráveis e 13 contrários no primeiro turno. Nesta quinta-feira (7), o placar só não se repetiu porque o deputado Adolfo Brito (PP) está em licença médica até sexta-feira (10). A aprovação com sete votos a mais do que o necessário no primeiro turno e folga de seis no segundo deve ser creditada a dois fatores: a construção da base mais ampla que um governador já teve na Assembleia desde a redemocratização e ao fato de que não havia, na sociedade, um clamor pelo plebiscito e, muito menos, contra a privatização. O governo de José Ivo Sartori criou o clima favorável à venda das estatais do setor de energia.
Sartori queria retirar a exigência de plebiscito, mas não conseguiu a articulação necessária. Tentou fazer a consulta no mesmo dia da eleição, mas foi barrado pela Assembleia, com articulação do próprio candidato Eduardo Leite. O tucano temia a vitória do “não” e dizia que, se isso ocorresse, o sucessor de Sartori ficaria impedido de vender as empresas. Argumentava que, misturado à eleição, não seria possível fazer o necessário debate. Eleito, achou por bem queimar etapas e propôs tirar a exigência da Constituição.
Nos próximos dias, o governo mandará para a Assembleia os projetos pedindo autorização para vender as empresas. Para aprová-los, bastam 28 votos, mas o debate na Assembleia será acirrado, porque o Piratini deve mandar um texto genérico e os deputados questionarão detalhes como o destino dos empregados, o valor, o passivo e outras questões relevantes.
O governo quer aprová-los até o recesso de junho, para ter o que mostrar ao Ministério da Fazenda nas negociações para adesão ao regime de recuperação fiscal. A venda mesmo só deve ocorrer em 2020.
Nesta terça mesmo, o governo já sentiu que, em questões delicadas, corre o risco de derrota. O MDB uniu-se à oposição e conseguiu impedir a continuidade da sessão que votaria a indicação dos novos diretores do Banrisul. A alegação dos aliados é de que não podem aprovar a nova diretoria sem saber quanto, exatamente, o Banrisul vai pagar em salários para os executivos. Esse argumento também é usado pela oposição, que rejeita a indicação do presidente e de diretores vindos de fora, caso do presidente, Claudio Coutinho, por seu envolvimento em operações de privatização.
O Banrisul propôs elevar de R$ 15 milhões para R$ 20 milhões anuais a verba para a remuneração dos administradores, o que aumentaria o salários do diretores de R$ 40 mil para R$ 90 mil e o do presidente de R$ 50 mil para R$ 100 mil.