Na discussão sobre a necessidade de enxugamento de estruturas do Estado, um tema já deveria ter sido colocado em pauta pelo governador Eduardo Leite, mas, estranhamente, vem passando ao largo do debate: qual o sentido de manter três bancos públicos no Rio Grande do Sul? Por que não concentrar no Banrisul as ações de fomento ao desenvolvimento?
Leite vem repetindo que não pretende privatizar o Banrisul, apesar da pressão do governo federal para que o banco seja incluído no pacote para adesão ao regime de recuperação fiscal. O governador sabe que, diferentemente do que ocorreu com CEEE, Sulgás e CRM, não teria autorização legislativa para tirar da Constituição a exigência de plebiscito para privatizar o Banrisul. Em caso de consulta à população, o “não” seria amplamente vencedor, de acordo com pesquisas realizadas durante a campanha de 2018.
O Banrisul é um não-problema. Dá lucro, desde o governo passado a gestão foi profissionalizada e pode ser um instrumento importante na política de desenvolvimento do Estado. O governo tem como fazer dinheiro sem se desfazer do controle, vendendo o excedente acionário ou a subsidiária Banrisul Cartões.
O que não se justifica é a manutenção de mais dois bancos estatais, o Badesul e o BRDE, este em sociedade com Santa Catarina e Paraná. O que os dois fazem que o Banrisul não poderia fazer, se houvesse a decisão política de concentrar as atividades no banco estadual?
Historicamente, o Badesul e o BRDE têm sido usados como abrigo de políticos malsucedidos nas urnas. Com salários bem melhores do que os de secretário de Estado, foram cabides de emprego para suplentes até a Lei das Estatais estabelecer a exigência de critérios técnicos na nomeação dos diretores.
Entre os políticos que passaram pelo Badesul ou pelo BRDE nos últimos anos estão os ex-deputados Mano Changes, Paulo Odone, Mario Bernd, Kalil Sehbe Netto e Odacir Klein, para citar os casos mais recentes.
Agora, o PP está tentando uma manobra para ganhar duas vezes: emplacar no BRDE o ex-deputado Marco Peixoto, conselheiro do Tribunal de Contas, outro paraíso de políticos em fim de carreira. A jogada consiste em Peixoto se aposentar no TCE (com salário de R$ 39,3 mil), abrindo vaga para outro deputado, e ser nomeado para o banco. O MDB poderia fazer o mesmo com o conselheiro Algir Lorenzon, que já tem tempo de sobra para requerer aposentadoria no Tribunal de Contas.
Leite mantém silêncio sobre os planos para os dois bancos, mas a pergunta está no ar: qual é a lógica de manter, além do Banrisul, o BRDE e o Badesul?