Se o setor financeiro está entre os mais lucrativos do Brasil, por que não tornar o Banrisul mais competitivo, em vez de ceder à pressão do governo federal e do mercado para privatizá-lo? Essa pergunta deve ser respondida não só pelo futuro governador Eduardo Leite, mas, principalmente, pelos milhares de empregados do banco, que irão para o olho da rua em caso de privatização. O Banrisul dá lucro, mas será que não poderia ter um desempenho mais parecido com o dos concorrentes privados?
É fato que administrar banco não deveria ser prioridade de governos e que no século 21 nenhum Estado criaria uma instituição financeira, mas o Banrisul existe há 90 anos e, hoje, é um não problema. Diferentemente da CEEE, está saneado, dá lucro e distribui dividendos entre seus acionistas. Vendê-lo é uma exigência do governo de Michel Temer para aderir ao regime de recuperação fiscal, mas, para isso, é preciso vencer uma questão legal: a Constituição diz que só pode ser privatizado ou federalizado se, em plebiscito, os eleitores gaúchos disserem “sim”.
Há controvérsias em relação à legalidade dessa emenda, que poderia ser contestada na Justiça, mas Leite fez campanha dizendo que privatizar o Banrisul não está nos seus planos. O futuro governador sabe que, se for vendido, o banco vira pó em um ano, sem que isso resolva em definitivo a crise fiscal.
A lógica seria torná-lo mais eficiente. Aqui entra o papel da novos gestores, que ainda não foram escolhidos, mas devem ser profissionais do mercado: convencer os funcionários de que é preciso sair da zona de conforto garantida pela clientela cativa de servidores públicos e conquistar correntistas com serviços de excelência.
Pode-se dizer que os grandes bancos privados só têm lucros estratosféricos porque não hesitam em fechar agências em pequenas cidades, mas essa é uma meia-verdade. O Sicredi, que tecnicamente é uma cooperativa de crédito, tem agências espalhadas pelos confins do Rio Grande do Sul e resultados de fazer inveja a muito banco privado.
O futuro do Banrisul está nas mãos dos seus empregados. Com uma mudança de foco e de procedimentos, podem mostrar que, em vez de vender a galinha dos ovos de ouro, é possível fazê-la produzir mais.