Na campanha eleitoral, os gaúchos cansaram de ouvir o governador José Ivo Sartori e seu adversário Eduardo Leite garantirem que o Banrisul não seria privatizado. Fora dos debates, os negociadores do Estado asseguravam que a venda do banco não estava entre as exigências do Ministério da Fazenda para o Rio Grande do Sul aderir ao regime de recuperação fiscal. Parafraseando Sartori, "parole, parole, parole". Palavras, palavras, palavras.
A secretária-executiva do Ministério da Fazenda, Ana Paula Vescovi, que iniciou a negociação na condição de secretária do Tesouro Nacional, disse em entrevista ao Gaúcha Atualidade que o acordo não foi fechado porque o Rio Grande do Sul não cumpriu duas das condições impostas pela equipe econômica: incluir o Banrisul entre as garantias e mudar a fórmula de cálculo das despesas com pessoal, para acabar com a maquiagem que distorce a realidade.
Perguntada se essas condições sempre estiveram claras para os interlocutores do governo gaúcho, Ana Paula disse que sim. E reafirmou o que já se sabia: o que existe até aqui é apenas uma carta de intenções, que não virou acordo porque o Estado não cumpriu a sua parte.
Ana Paula repetiu o que já havia dito recentemente o ministro chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha. Já o vice-governador, José Cairoli, afirmou em entrevista ao programa Timeline que a privatização do banco esteve descartada pelo governo do Estado desde o início da negociação.
Vender o Banrisul não é tão simples como imaginam os burocratas de Brasília. Está na Constituição do Estado que, para privatizar as principais estatais, é preciso consultar a população em plebiscito. Nem Sartori nem o governador que assume em 1º de janeiro manifestaram disposição para fazer o plebiscito.
Vender o Banrisul não é tão simples como imaginam os burocratas de Brasília
A consulta que Sartori propôs era restrita às estatais do setor elétrico: CEEE, Sulgás e Companhia Rio-grandense de Mineração. Não saiu porque o PSDB de Leite não concordou com o plebiscito alegando que não era conveniente fazer a consulta de afogadilho. Havia pesquisas mostrando que a maioria dos eleitores gaúchos votaria contra a privatização.
Ano novo, vida nova. Daqui a 33 dias, Leite assume o Piratini e terá de negociar a adesão ao regime de recuperação fiscal com um novo governo. O futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, é ainda mais duro do que o atual titular da Fazenda. Na Secretaria do Tesouro Nacional, continuará Mansueto Almeida, que também defende com mão de ferro o ajuste fiscal por parte dos Estados.
Leite segue dizendo que não pretende privatizar o Banrisul. Seu futuro secretário da Fazenda, Marco Aurelio Santos Cardoso, repetiu esse discurso em entrevista na terça-feira.
A expectativa é de renegociar cláusulas do acordo com o governo de Jair Bolsonaro, que já expressou sua preocupação com a crise dos Estados. O risco da demora em um acordo é cair a liminar do Supremo Tribunal Federal que vem permitindo ao Rio Grande do Sul não pagar as parcelas da dívida.